domingo, 28 de dezembro de 2008

se me olhares nos olhos

não me olhes nos olhos
enquanto perco as palavras
doridas
que te quero dizer
de uma só vez
não busco epitáfios
recorrentes
se ao menos sentisses os meus sussurros...

o segredo monstruoso
que guardamos
não sei como ocultar-to
se me olhares nos olhos

sábado, 27 de dezembro de 2008

por ti

posso-te escrever
um nome
uma história
uma vida
posso-te mostrar
um sonho
uma esperança
uma incerteza
posso-te acolher
em mim
no bater do coração
sorrir-te cumplicidades
posso-te contar
poemas
ao sabor de uma lareira
em horas surpreendentes
também posso
dar-te a mão
ou um abraço forte
nos dias sós
bipolares
afirmo-te
que estarei cá
sempre
por ti

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

hoje espero-te ansiosa

hoje espero-te ansiosa
nos dias horas e minutos
que nos separaram
quero os teus beijos e abraços
quero mostrar-te as prendas
quero ver o teu sorriso
um a um
quero o teu amor
só para mim
hoje não te partilho
com ninguém
hoje cada uma de vós
é só uma
e só minha

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

hoje não é Natal

Hoje não é Natal
se não estás cá

sábado, 20 de dezembro de 2008

o encontro

Joana sempre fora forte mas aquela notícia abalou-a. Ao fim de tantos anos de casada Maria dissera-lhe na cara que se ia divorciar. Ficou perplexa. Sem palavras.
-Pensa bem. É um passo muito importante. Tens uma família inteira que depende de ti.
Mas Maria estava decidida, o rosto frio e branco, os lábios afilados.
-Joana é a única hipótese. Não aguento mais! Sempre pensei ficar casada para o resto da vida mas este casamento é uma farsa há muitos anos. Eu é que não vi antes.
Joana tentou controlar o rosto estupefacto por tanta certeza.
-Mas como é que isto aconteceu? Casámos no mesmo dia. Somos amigas há quase 30 anos. Os nossos maridos saem tantas vezes juntos...
A frase ecoou-lhe na garganta. Seria uma amante? Sim só podia ser. E se era será que nessas saídas...Não! O seu marido nunca lhe faria isso! Será que não? Agora que pensava nisso...se o dela era uma jóia o fez...o seu...optou por ficar calada, as rugas de expressão acentuaram-se. Nunca tinha pensado tal coisa.
Olhou para Paula pedindo ajuda. Paula ostentava um sorriso pérfido.
-Ele nunca me enganou! Eu sabia que um dia isto ia acontecer! Nunca vos disse porque não me iam ouvir. E tu Joana és a próxima!
O semblante de Paula ia-se alegrando à medida que estas farpas eram disparadas em todas as direcções.
Joana fitou Maria aterrorizada.
-Como podes dizer isso se és nossa amiga ? Devias apoiar a Maria neste momento difícil.Que história é essa de que serei a próxima? O meu marido ama-me. Tenho um casamento feliz. Estável. Filhos maravilhosos.
Paula abanou a cabeça
-Vocês casadas são todas iguais, tapadinhas até dizer chega. Meu Deus! Nunca desconfiaste dos serões do teu marido? Das alterações de visual dele? Das idas ao ginásio? Da troca de carro por um descapotável? Dah!!!!
Paula era executiva e após um namoro de 7 anos, tudo acabara a dias do casamento. Tornou-se dura e frontal. Embora sabendo que podiam contar com ela, Joana e Maria sentiram-se desfalecer.
Os olhos agora lacrimosos de Maria não a demoveram.
-É bem feito! A culpa é vossa! Vocês vivem dedicadas a um homem e é o que dá! Olha para ti Maria! Há quanto tempo não vais ao cabeleireiro? E tu Joana? quantos quilos engordaste no ultimo ano?
Maria soluçou
- Pára! Estou farta da pessoa amarga que tu és! Tu não és amiga! És uma vibora! Nunca amaste ninguém!
Joana abraçou Maria e lançou um olhar de reprovação a Paula:
-Francamente, ultrapassaste todas as marcas! Que pessoa horrivel és tu? Sempre invejaste a nossa felicidade e o facto de termos tido filhos.Não prestas mesmo!
Paula reprimia a custo uma lágrima voltando a cara para o lado. Efectivamente estava só e a felicidadezinha de ambas sempre lhe causara inveja.
Maria já nada ouvia, de olhar parado confessava em voz quase imperceptivel:
-Tenho tanto medo de ficar só Joana.Tu sabes que ele me vai querer tirar os filhos, deixei de trabalhar quando nasceram, não vou encontrar emprego!
-Maria nem penses nisso, nenhum juiz tomaria essa decisão! Tu és uma mãe excelente e os teus filhos já tem idade para decidir com quem querem ficar. disse Joana enxugando-lhe as lágrimas.
Era a primeira vez que vira Paula chorar.

sem avisar

Maria ficou chocada, uma notícia destas...uma verdadeira bomba!
Aos quarenta anos, depois dos filhos criados nada fazia prever...não vira ou não quisera ver, os atrasos sucessivos, as desculpas tão convincentes que até a faziam ter pena dele.
Coitado do Carlos! E afinal o mundo desabou sobre si em três palavras:
"Quero o divórcio! "
Assim. Sem mais nem menos. Numa noite em que o candeeiro da rua tinha a luz trémula, tão trémula como as batidas do seu coração. As crianças em pijama na sala e ela gelada ali à porta. Paralisada pela surpresa. E as palavras a serem repetidas, de novo, para ver se entravam a sério dentro de si. Entraram e sairam-lhe também três: "Ok. tudo bem!"
Ok? Porquê Ok? pensou em transe.
Emudeceu. As pernas não obedeciam, o coração quase a saltar, as mãos tremiam e os olhos, todavia enxutos, aguardavam ordens para transbordar.
A TV ligada nos desenhos animados. Um beijo nas crianças chamadas à pressa.
E a outra no carro.
À porta.
À espera.
Nem teve de esperar muito.
Coisa rápida...5 minutos e estava despachada a questão.
Carlos saiu ufano absorto em gloriosos pensamentos.
Safa! Até tinha corrido bem. Ela ficara sem pinga de sangue e não reagira. Boa! és os maior! É assim mesmo! Acabou, acabou! Não era preciso dizer mais nada. Lamechices para quê. Ainda bem que a Marta me obrigou, senão ainda não era desta.
Agora vida nova! Toca a gozar!
E o carro partiu como chegou. Sem avisar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

em mim


há construções que são lentas
porque só assim fazem sentido
há esperas que se aguardam
sem ânsias por necessárias
há calmas que não se apressam
por serem tranquilizantes
há sentimentos que morrem
por nunca terem nascido
há drogas que não se tomam
por serem meros placebos
há lutas que se respeitam
por serem essenciais
há almas que me percorrem
incessantemente
por só querem paz
mas não há tabus
em mim

last dinner

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

o Capuchinho Vermelho

-António, preciso que vás fazer este depósito bancário. Com a maior urgência! Por favor toma cuidado! Olha que neste envelope está todo o dinheiro de caixa do fim-de-semana! Não faças o depósito nas caixas automáticas porque podes ser visto! Vai ao balcão e preciso que sejas rápido! O talão de depósito tem de seguir, ainda hoje de manhã, para o contabilista!
-Certo chefe! Não se preocupe! Num instantinho estou de volta.
António era o estafeta novo da empresa. Era a primeira vez que lhe confiavam aquela tarefa. Teve de ser. O Natal está à porta. A loja cheia de gente e ninguém podia ser dispensado.
A caminho do Banco, António lembrou-se que, já que estava na rua, podia fazer uma passagem na Vodafone...só para ver as novidades...com um pouco de sorte talvez conseguisse fazer um choradinho à avó e quem sabe...em vez das meias...
Absorto nos seus pensamentos, esbarrou numa mulher de idade com aspecto andrajoso, derrubando-a.
-Ei! Veja lá por onde anda!
-Peço imensa desculpa, estava distraido! disse ajudando-a a levantar.
-Esta juventude já não é o que era! Uma falta de consideração pelos mais velhos, doentes, com reformas miseráveis, que nem dá para os remédios, uma pessoa cheia de dores e leva um empurrão destes...se ao menos tivesse dinheiro para comprar o anti-inflamatório, mas custa um dinheirão...nem para comer tenho dinheiro!
António condoeu-se com a situação, revendo aquelas frases tantas vezes ditas pela sua avó...
-Eu até lhe pagava o medicamento mas, de momento, não tenho dinheiro. À tarde recebo o ordenado. Se a senhora ainda andar por aqui eu ajudo-a a comprar!
-És um anjo! Mas doi-me tanto a perna depois da queda...se me ajudasses a chegar a casa...ficava muito agradecida. Não é longe. Moro já ali.
-É o minimo que posso fazer, dê-me o braço que eu ajudo-a.
António percorreu ruas e vielas embrenhando-se em zonas de Lisboa, totalmente desconhecidas para si...Começou a ficar preocupado, o tempo estava a passar mas não podia deixar a senhora sozinha, afinal tinha prometido...
Subitamente algo de frio e brilhante surgiu daquela mão outrora trémula.
-Passa para cá o dinheiro!
António ficou espantado, como era possivel isto estar a acontecer.
-Mas então a senhora não estava com a perna presa com dores?
-Claro que não!
-Então também era falso que precisava de dinheiro para comer?
-És um otário! Ainda não percebeste?
-O nosso encontro não foi casual?
-Ouve lá, tu és louro ou quê? Claro que não! Segui-te desde a loja. Sei que trazes bastante dinheiro.Passa para cá a massa e rápido!
António empalideceu, perante uma faca daquelas pouco poderia fazer...Entregou o envelope por entre suores frios. Tinha-a arranjado bonita! E agora...? Como iria explicar ao patrão?
Subitamente surgiram do nada dois individuos corpulentos. Manuel tremeu...É desta que vou morrer! pensou.
Abruptamente dirigiram-se à mulher manietando-a.
-PJ! A srª está presa por roubo e atentado à integridade física!
António sentiu as pernas a desfalecer.Graças a Deus! Que situação! Estava safo!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

remorsos

Entre chamas crepitantes
fixo o olhar no vazio
retomo-me naquela que já fui
absurdamente crédula
nas tuas desculpas
mesmo quando te escondia
as gotas salgadas
que saiam do olhar
obedeci-te
vezes sem conta
culpei-me
aceitando as tuas culpas
como minhas
menosprezei-me
para que tu não o fizesses
humilhei-me por me convencer
que era mesmo assim
mentiste-me
tantas vezes
que aceitei essa violência
pérfida como justa
hoje passo por ti e vejo
não tens remorsos
mas eu tenho
de não ter visto mais cedo

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

a tempestade

Tal como José profetizara, subitamente, o vento mudou de rumo. As vagas agigantaram-se e o céu ficou tão escuro que mal se via a cabine do barco.
João lutava, heroicamente, para se manter em pé, agarrado ao mastro principal, que ameaçava a queda a qualquer momento.
Tinha de procurar um refúgio, as vagas não teriam dó nem piedade e a próxima arrastá-lo-ia, certamente, borda fora.
Prometera a si mesmo e ao velho José que ficaria ali, acontecesse o que acontecesse...veio-lhe à ideia o filho, tão pequeno ainda, talvez não o voltasse a ver...
"Disparate! Sou um lutador, havemos de sair desta" e um novo alento apoderou-se de si. Pelo seu filho não podia desistir, lutaria contra o mar, contra a ira dos deuses, contra todas as fúrias...
Uma corda, descontrolada, atingiu-o na face deixando-lhe um vergão profundo, conseguiu agarrá-la e prender-se. A custo abriu a porta da cabine e viu José, inanimado, com uma mão ensanguentada presa no leme.
Não havia tempo a perder, tinham de saltar para a água gelada . Puxou-o com todas as forças, colocou a corda em seu redor e saltou.
Já na água, colocou o seu braço, vigoroso, à volta do pescoço de José, para o manter à tona.
Os minutos tornaram-se horas, o barco virara-se impotente sucumbindo a toda aquela força.
Por agora, estavam vivos...
Lentamente o mar amansou, o céu recuperou a luz, mesmo quando o coração já batia tão devagar. A hipotermia começava a tomar conta dos dois " Mais um esforço" pensou "Umas braçadas e estavam a salvo"
A custo, içou-se para o que restava do barco, nunca largando a corda que o unia a José. Exausto, lutando contra as dores alucinantes que o percorriam, puxou com todo o cuidado aquele velho inanimado, de pele curtida pelo sol.
Sentiu então que estava só... mas em paz..

domingo, 23 de novembro de 2008

para que as palavras percam a importância

insisto
em estar aqui
com palavras sem letras
perdida
entre fotos emperradas
que nada dizem
mudo de ideias
apago-me
reescrevo-me
rebuscando em mim
o que falta
desta história
obsoleta
de contornos duvidosos
não te peço que acredites
não é importante que o faças
deixa-me falar
simplesmente
para que as palavras percam a importância

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

"Incompetente,malandro,um imbecil, é o que ele é! "
Vociferava, irado, José, enquanto gesticulava agarrado ao leme.
"Já o sol nasceu e ainda não saímos de terra e chega-me aqui, com este desplante, como se não fosse nada com ele...É a ultima vez, só não ficou em terra porque preciso de todos nesta faina, mas podem escrever o que eu digo, neste barco não torna a entrar, vai ser a sua ultima viagem, ou eu não me chame José!"
A tripulação entreolhava-se, não ousando mexer um músculo, discussões no mar são frequentes mas, antes de partir, todos sabem que dá azar...
João ficou cabisbaixo, começar assim o dia não é fácil... se não fosse a necessidade de levar dinheiro para casa...também nunca tinha sido bom na escola, não nascera para aprender... preso numa sala de aula...e o mar...sempre o admirara, não lhe tinha medo, era um desafio...toda aquela imensidão a perder de vista...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

gosto deste chão que piso



gosto deste chão que piso
desta terra que também é minha
choca-me a indiferença
a monotonia dos dias sempre iguais
perdidos em burocracias
repetitivas
gosto destas ondas
que me fazem sonhar
que um dia seguirei outros caminhos
recheados de desafios estimulantes
podia ficar de olhos fixos no chão
mas não
quero olhar para o céu
e sentir que todo esse azul intenso
também um dia
será meu

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

chamo-lhe João



Chamo-lhe João, terá os anos que a vida lhe deu.
Vive ali, debaixo dos meus olhos, incomoda-me vê-lo de olhar fixo, inexpressivo, sem que um ruido saia daquele corpo.
Pouco come.
Durante o dia está sentado no banco do jardim junto à fonte.
Por vezes defeca ali mesmo, em pé, na esquina da casa rosa, nesses momentos envergonha-se, torna-se humano, só por instantes...depois retoma o autómato em que a vida o transformou.
Dia e noite, sob sol escaldante ou chuva torrencial permanece absorto, envolto no amontoado de trajes sem sentido, perdeu-lhes a cor, tal como perdeu o Mundo ou como o Mundo o perdeu...
Admiro-lhe as mãos, finas demais para a sua personagem...
Hoje vejo-o a escrever calmamente, com gestos fáceis, como se a escrita fosse algo que ainda domina.
Estou curiosa , esse corpo de voz emudecida, tem vida...
Quero saber se essas palavras alinhadas têm nexo ou se estão para lá perdidas...
Aproximo-me, fixando esse olhar vazio, que me esconde do que foge, e roubo-lhe o caderno sem pensar, folhei-o e espanto-me com o que leio...
Agora tudo faz sentido.
Sento-me, em silêncio, de olhar vazio a seu lado no banco de jardim.

Seja o que Deus quiser...

O dia tinha amanhecido ameno, bem diferente da véspera, chuvosa, que enlameara o jardim e provocara o caos nas tendas, cuidadosamente armadas para a festa. Felizmente a empresa de eventos era excelente e alguns amigos tinham-se prontificado para ajudar, estava tudo quase pronto, de novo, nos devidos lugares...
Respirou fundo, ainda bem, hoje vai ser um dia importante para ele...
Ele era o seu irmão mais novo, o Manel, que, ao fim de tantos anos de namoro, lá tinha sido convencido pela Madalena a casar.
Não me pareceu uma boa ideia, nós os dois formamos uma dupla imbatível, no que respeita a mulheres: elas não nos largam e nós não nos fazemos rogados...vou ter pena, mas também não gosto da Madalena!
Nunca gostei!
E se ela pensa que não vou continuar a desafiá-lo só porque é casado, está muito enganada...
Entro de rompante no quarto, totalmente desalinhado da noite de borga inesquecível, tenho de afastar a mãe daqui, ainda bem que sou o padrinho e lhe proibi com um beijo a entrada.
Suspiro mas já que tem de ser, vamos em frente.
-Bom dia, pá, dormiste bem?
-Não sei como me meti nisto...ainda estou para saber como ela me convenceu...
-Manel tomaste os comprimidos ao menos?
-Ó Francisco achas que me ia esquecer?
-Sei lá! Tu tens estado tão nervoso e inquieto...
-Claro que tomei senão nem me aguentaria em pé.
-Então vá respira fundo e pensa nas mulheres que ainda vamos engatar
-Se me casar claro...
-Ó Manel se pensas assim, era melhor mesmo não casares...
-É só para te irritar, tu ficas mais giro irritado, vamos lá a isso e seja o que Deus quiser...

domingo, 9 de novembro de 2008

por entre aquedutos de sentimentos


já não há flores nas minhas janelas


já não há flores nas minhas janelas
foram perdendo lentamente
o cheiro
as pétalas
as folhas
ficaram feias
afastei-as para longe
de castigo
por me terem sugado
o sol que me aquecia
em seu lugar
deixaram-me o vazio
que se instalou
aqui
bem fundo
inundando-me de calafrios
enquanto anseio
a Primavera

sintra


venice by sea




venice sunrise



Dubrovnick


sábado, 8 de novembro de 2008

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

se o coração parou

como posso falar
se a voz se prende
como posso ver-te
se a visão se turva
como posso escrever
se já nem penso
como posso amar-te
se o coração parou

terça-feira, 4 de novembro de 2008