quarta-feira, 30 de abril de 2008

estou algures por aqui



estou algures por aqui
entre a noite e o dia
o choro e o riso
a vida e a morte
talvez a meio
na incógnita de onde estou
só sei que tenho pele
que sente o frio
a surpresa
a indignação
por vezes a paixão
tão ilusória
como eu
esqueço-me das minhas patologias
mais bizarras
e perco-me dentro de mim
na minha descoberta
às vezes sinto-me
insensível
como se já nada me importasse
desiludo-me dos castelos
que construo
matematicamente arrasados
por equações incorrectas

segunda-feira, 28 de abril de 2008

vejo-te todos os dias


vejo-te todos os dias
embrulhado nas manhãs
quentes
e geladas
volto a cara
como todos fazem
à tua imagem
incomodativa
hoje abordaste-me
pela primeira vez
olhei para ti
e vi de perto
a tua cara
suja e triste
pediste-me um cigarro
com gestos distorcidos
dei-to e segui em frente
deixando-te embrulhado
no amontoado das vestes
da tua vida
virei a esquina
mas retrocedi
regressei a ti
oferecendo-te dinheiro
a medo
para matares a tua fome
mostraste surpresa
com o gesto tão banal
esboçaste um sorriso
acenaste com a mão
sem um som
vislumbrei luz
no teu rosto opaco
e vi pela primeira vez
que ainda tens fome de vida

sábado, 26 de abril de 2008

encontra-me e fico

multiplicas-te em personagens
procurando
encontrar-me
descobres-me rituais
desconhecidos
posso fugir
ou ficar
deixar que me encontres
ou esconder-me
para sempre
tambem eu tenho personagens
invisiveis
algumas ignoradas
procura-me e fujo
encontra-me e fico

sexta-feira, 25 de abril de 2008

hoje escrevo alegria

hoje escrevo alegria
num dia perfeito
de um mundo
quase perfeito
rodeada de beleza
de um mar tão magnifico
como me sinto
surpreendentemente calmo
aguardo serenamente
a partida
para o próximo destino
igualmente
soberbo
sem sombras
nuvens
ou penumbras
hoje escrevo alegria
certamente
por estar mais próxima de mim

quinta-feira, 24 de abril de 2008

por favor tira-me daqui

diz-me as palavras
que preciso ouvir
troca-as por olhares
atentos
acaricia-me
o choro incontido
faz-me sorrir
nos momentos tristes
que vão e vem
como marés
sem eu querer
fragiliza-me
por fora
enquanto me fortaleces
por dentro
gere os meus tempos
diferentes
que ora passam
a correr
ora duram
eternidades
tira-me desta confusão
em que me tornei
e de que fujo
por favor tira-me daqui

os sentidos estão despertos

os sentidos estão despertos
estou mais atenta
ao azul escuro do mar
que me circunda
a espuma branca
emerge
de quando em vez
nesta imensidão
pacificamente
como me sinto
quando me deixo levar
neste balanço
que me embala
o sono e os sentidos
desperto ao nascer do sol
e sinto de novo a calma
das águas tranquilas
gosto de sentir
a timidez do sol
que me aquece
e prossigo
no novo dia
como se não houvesse amanhã

de quando em vez

de quando em vez
avisto um barco
sigo-o com o olhar
imagino para onde me levaria
regresso ao meu
seguindo a minha rota
tranquila
até ao próximo porto
onde imagino
que me esperas
ansiosamente
enquanto me deprimo
nos casais apaixonados

apesar de tudo

fotografo com a mente
a máquina
não transmite
os sentimentos
que não domino
frustram-me as fotos
que não saem
como me frustram as palavras
que transmito
estou bem
não ligues
são palavras
que se soltam
sem eu querer
como as lágrimas
que tantas vezes rolam
mas acredita
estou bem
apesar de tudo

quarta-feira, 23 de abril de 2008

visitem-me vocês

divido-me entre 3 mundos
que tudo me exigem
e pouco me entendem
o meu
o teu
o vosso
espartilham-me
puxam-me
para lados opostos
esqueço o meu
não percebem
que estou cansada
preciso de regressar
ao meu mundo
visitem-me vocês

estou insegurissima mesmo

asseguro-me
de que estou
segura
do que faço
na insegurança
destes momentos
baixo as guardas
as defesas
e permito-me
sentir
um ou outro
sentimento
posso parecer insegura
mas asseguro-te
que não o estou
estou inseguríssima
mesmo...

está mais perto a conclusao

espraio-me
no fumo
de um cigarro
que procuro
em vão apagar
solto-me aos poucos
e gosto do que sinto
descubro-me
lentamente
e a procura esta mais perto
começa a fazer sentido
o puzzle que desmontei
está mais perto
a conclusão

nao tenho medo de ter medo

sinto a musica leve
que me sussurras
quando respiras
soltas-me a poesia
em rosas
eufóricas
no ajeitar das velas
sinto o teu toque
a medo
por entre os diferentes medos
que enfrentamos
assumo
não tenho medo
de ter medo

terça-feira, 22 de abril de 2008

tento superar a noticia

tento superar a noticia
parte de mim
está "na boa"
a outra parte
ainda não percebeu
o seu significado
é um dos meus fins
que irão ocorrer
cedo demais talvez
aconteceu simplesmente
procuro não envelhecer
demais
aguardo o acordar
da minha parte dramática

antes chorei por mim

antes chorei por mim
empoçando a almofada
com cheiro a ti
sentindo o frio
dos lençóis
com que me gelaste
a vida
hoje as lágrimas secaram
hoje contemplo-te
e arrepio-me
do que senti
por ti

segunda-feira, 21 de abril de 2008

pinto-te o quadro desta viagem

pinto-te o quadro desta viagem
inicialmente atribulada
agora calma
luxuosamente pacifica
na solidão destes momentos
restabeleço as forcas
que lutam em sentidos
diversos
e que sempre me esgotam
recupero
e regresso
certamente
para a minha cama de estrelas

o que sinto nao explico

o que sinto não explico
não posso
não consigo
tu também não
talvez um dia
saiam as palavras
que queres ouvir
talvez me povoes
mais do que pensas
parti
com a esperança renovada
de recuperar
os laços desfeitos
sem palavras
com olhares
gestos
sinto-te de novo próximo
embora tu não o admitas
conheço-te o jeito
fazes-me bem
quando me apoias
e me fazes sentir segura
de novo
fazes-me bem
quando te sinto
simplesmente ai
a velar por mim
não preciso de palavras
para o expressar
talvez tu sintas isso

domingo, 20 de abril de 2008

pouso a máquina


just for a while

hoje sirvo-vos poesia

como entrada:

terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
mal de te amar neste lugar de imperfeição
onde tudo nos quebra e emudece
onde tudo nos mente e nos separa

que nenhuma estrela queime o teu perfil
que nenhum deus se lembre do teu nome
que nem o vento passe onde tu passas,

para ti criarei um dia puro
livre como o vento e repetido
como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen in "Terror de te amar"

como 1º prato:

Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer;

Luiz Vaz de Camões

como 2º prato:

pedem tanto a quem ama: pedem
o amor.Ainda pedem
a solidão e a loucura.

Herberto Helder in "Poesia Toda"

como sobremesa:

apetece como um barco.
tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa in "Poesia"

sábado, 19 de abril de 2008

hoje imaginei-te um jardineiro dedicado a uma só flor



era uma vez um homem
ou uma mulher
é indiferente...
arrasado pelo temporal
que lhe destruiu
todo o jardim
que tinha
encontrou algures
sem querer
uma semente
que cuidadosamente
plantou no solo
regou-a diariamente
ajeitou-lhe a terra
retirou-lhe as ervas
e aguardou...
esperou dias
meses
e já cansado
começava a pensar desistir
um dia do nada
viu-a germinar
tomou novo alento
colocou-lhe estacas
protegeu-a do vento
do frio
da chuva intensa
e a semente transformou-se em flor
maravilhou-se com a natureza
quando foi ele o criador


sexta-feira, 18 de abril de 2008

palavras soltas


adoro o poder
das palavras soltas
brinco com elas
apodero-me das que posso
e divirto-me com os sentidos
que lhes dás
interpretando o que não é interpretável
as palavras soltas
são majestosamente dúbias
iludo-te e
acreditas no que queres acreditar
enganas-te no que digo
os meus sentidos não são teus
são meras expressões
que uso quando quero
alimentas-te de mim
eu alimento-me delas

escreve-me coisas bonitas


escreve-me coisas bonitas
um poema
uma canção
escreve-me uma flor
uma foto
um refrão
escreve-me histórias
que me façam sonhar
escreve-me os suspiros
que te apertam o peito
escreve-me as cartas
que nunca irás mandar
escreve-me a vida
a alma
a pele
escreve-me Amor

unem-nos as pontes das distâncias




unem-nos as pontes
das distâncias
que enfrentámos
nos momentos
em que
separadamente
estivemos perdidos
das pontes destruídas
aprenderemos a construir
novas pontes
que nos unam
ou que nos distanciem
como é suposto
acontecer

quinta-feira, 17 de abril de 2008

nunca desistas de mim


nunca desistas de mim
mesmo que eu não mereça
cativa-me
nas fragilidades
que revelo
mas não me forçes
tenho medo de me desintegrar

oculto-me


tenho dias de coragem
outros de cobardia
na fuga do sentir
complico tudo
o que é simples
no medo vacilo
revelas-me
oculto-me
mas sabes que estou aqui
fugindo da exposição

o futuro é uma aventura com o nosso nome


o futuro será a aventura
que quisermos que seja
que agrade a ambos
como a um só
o futuro será o caminho paralelo
talvez com pedras
que removeremos com cuidado
com alegrias e tristezas
partilhadas
que por o serem
serão maiores
ou mais suaves
o futuro será
um belo dia de sol
onde voltaremos a sentir
o bater do coração
ou um dia de chuva
onde nos sentaremos
enroscados à lareira
o futuro será composto
de dias de partilha
de silêncios
ou de risos
o futuro é uma aventura
com o nosso nome

terça-feira, 15 de abril de 2008

gostava de voltar atrás


gostava de voltar atrás
quando escrevia os nossos nomes
em todos cadernos
bem no meio de grandes corações
gostava de voltar atrás
aqueles momentos
em que tudo era para sempre
e as nossas mãos
eram para nunca ser largadas
em que só o teu olhar
me fazia tantas vezes corar
gostava de voltar atrás
aquela sala de cinema
onde timidamente
entrelaçávamos as mãos
gostava de voltar atrás
e dançar um "slow"
encostada ao teu ombro
ao som do bater do teu coração
só meu
gostava de voltar atrás
quando te sabia sempre aí
enquanto aguardava
o toque frenético
dos intervalos
das aulas
onde sonhava contigo

segunda-feira, 14 de abril de 2008

hoje estou carente



hoje estou carente
de pele
de calor
de sentir-me
hoje quero que as nuvens partam de vez
e que o sol brilhe
hoje quero ter pássaros
que cantem só para mim
enquanto me acomodo na areia quente
quero palmeiras plantadas
na beira do meu mar
de azul intenso cristalino
hoje fujo do cinzento
emolduro para sempre o desconforto
para o olhar de soslaio
só de quando em vez
e apreciar o quanto posso ser feliz

domingo, 13 de abril de 2008

estou ocupada



estou ocupada
semi-ocupada
ocupadissima às vezes
não tenho tempo
perco-me no tempo
gasto o tempo
com tanta coisa
tanta gente
com os outros
estou disponível
semi-disponível
indisponível
para alguns
para ti
para mim
estou irritada
semi-irritada
irritadissima
comigo
convosco
com a vida
sou sociável
semi-sociável
anti-sociável
comigo
para mim
em mim

sábado, 12 de abril de 2008

para lá do arco-iris




deslumbro-me com as cores do arco-íris

etéreo

expontâneo

misterioso

páro

encosto a cabeça

no teu ombro

e olhamos em silêncio

aponto-te todas as tonalidades

que descubro

apontas-me outras que não via

deslumbrados

pego-te na mão e seguimos juntos

o caminho da descoberta do que existe

para lá do arco-íris

sexta-feira, 11 de abril de 2008

gosto de brilhantes


gosto dos brilhantes
que escorrem em gotas de água
dos brilhantes reflexos
da caneta com que escrevo
gosto de brilhantes dias
de sol
gosto das tonalidades brilhantes
do meu cabelo
reflectidos no brilho
dos teus olhos
das cores brilhantes
do arco-iris
gosto das palavras brilhantes
dos dias em que me sinto
brilhante

sou o palco



sou o palco
tu a plateia
represento tudo
para ti
invento-me em personagens
invisíveis
canto
danço
choro
em silencio
observas na plateia
do palco não te vejo
com as luzes que me focam
e desfocam o olhar
imagino-te
aí do outro lado
vendo-me no palco
onde hoje represento tudo para ti
até ao cair do pano

estou doente


estou doente
com febre alta
deliro em ideias
que me atropelam
não como
não durmo
só escrevo
coisas que ignoro
de onde saem
estou doente
sem forças para lutar
contra esta vaga
que fervilha e me varre
a toda a hora
escrevinho em todos os papéis
que encontro
frases, ideias, palavras
sem sentido
quando a febre abranda
amarro umas
às outras
nesta febre
de picos descontrolados
não tenho saudades
dos tempos em que estou saudável

quinta-feira, 10 de abril de 2008


só pelo facto de ser mulher


visto a minha saia
mais travada
realço todos os contornos
faço aquele risco
bem certinho
que me reaviva o olhar
nos olhares furtivos
que me lanças
cativo-te os olhos
que desvias
rio-me do efeito
que produzo
do ar adolescente
que ainda ostentas
quando finjes que nem sequer olhas para mim
sigo mais segura
o meu caminho
nos dias em que sinto o desconcerto
que ainda consigo provocar
em ti
só pelo facto de ser mulher

terça-feira, 8 de abril de 2008

enquanto me inspiras


sou o cheiro suave da lavanda
que te inunda o pensamento
velas por mim
em sonhos
que não quero assombrar
deslumbro-te com cores
que invento
"á la minute"
só para ti
enquanto sonhas
não durmo
neste turbilhão de ideias
que me trazes
obrigas-me a pensar
enquanto ondulo
ao sabor da brisa
perfumando o ar que te rodeia
sentes-te firme
eu oscilo
enquanto me inspiras

segunda-feira, 7 de abril de 2008

if you where in my shoes

would you run away in fear?
would you stay along with me?
would you clear away my tears?
would you hold me in your arms?
would you hugh me when I need?
would you count my stars above?
would you write my name in trees?
would you really love me forever?
would you never let me down?
would you always feel my skin?
would you ever understand
how is being in my shoes?

aguardo algum indício de tormenta

estou perdida
nesta praia deserta
o caminho acabou aqui
ignoro o que fazer
se avanço se retrocedo
estou expectante
da minha decisão
o desconhecido atrai-me
o conhecido dá-me segurança
observo a tranquilidade
da areia quente
que hoje não me fustiga
a magestosidade dos socalcos
do mar azul
que não temo
o céu claro inspira-me
encho os pulmões
com a brisa pura
e aguardo algum indício
de tormenta

domingo, 6 de abril de 2008

em ponto morto


não sei se
por medo
por instinto
ou cobardia
abrando e páro
na berma
sempre em ponto morto
o coração salta-me do peito
enquanto
observo o fluir
do trânsito intenso
que me ignora
não posso ficar aqui
em segurança
para sempre
terei de arriscar um dia
mas temo
não aguentar
novos despistes
opto por ficar
em ponto morto

sábado, 5 de abril de 2008

sou eu quem escreve


sou eu quem escreve
as palavras
desta história
que no fundo
é só minha

sou eu quem sentiu
ao rubro
nesta pele
tudo aquilo
que só hoje te digo

sou eu que curo
sozinha
nos silêncios
as minhas feridas
ou que as faço

sou eu quem ri
tantas vezes
do passado
quando
só pretendia fazê-lo
do futuro

sou eu quem chorou
tantas vezes
quando estavas
tu ali
e
eu aqui

sou eu aquela
que perdeste
e que não esqueces
mas que
ainda hoje sei
que não conheces

sou eu
talvez
o teu futuro
se um dia conseguir
esquecer
o meu passado

ergue o teu cálice
se achas que mereço
quando chegar o fim
desta viagem
para poder
no ultimo suspiro
saber que
afinal marquei alguém

sexta-feira, 4 de abril de 2008

tivera eu destes olhos

tivera eu destes olhos
profundos e transparentes
ao invés daqueles que tenho
banais
que tanto te encantam
onde consegues ver estrelas
em tão nublado céu ...

talvez o tempo se altere
e o céu fique claro um dia
ou
os meus olhos se adaptem
à imagem que tens dos meus

quinta-feira, 3 de abril de 2008

quarta-feira, 2 de abril de 2008

como sempre


exibo-me na oralidade
que transcrevo
nela encontras a segurança
que não tenho
não te iludas!
nesta exibição
escondo os medos
do tempo percorrido
em inconstantes retrocessos
resolvo-me nas dúvidas que tenho
atropeladas por acontecimentos
tantas vezes casuais
mas continuo insegura
como sempre

do tempo em que nem apreciava pérolas

remexo no baú da memória traiçoeira
e finalmente
descubro as pérolas
que julguei perdidas
olho
com avareza
toda esta riqueza acumulada
hoje de valor incalculável
que desconhecia ter guardado
toco a medo
nas pérolas
baças
esquecidas
e frias
preciso de as ostentar
junto ao peito
para recuperarem
o calor e o brilho de outrora
do tempo em que nem apreciava pérolas

no mar em que navegaste


no mar em que navegaste

tantas vezes fustigado pelas marés
noutras ao sabor do vento
lançaste a âncora
julgando-te seguro
hoje olho para ti
e sinto a tua sede de mar
vejo as cores que julgaste ter perdido
hoje quero navegar no mar azul
dos teus olhos
sussurrar-te palavras sem sentido
só para sentir o teu cheiro
e inebriar-me de ti
no romantismo extravasado
do que és sem saberes
elaboro-me para ti
unicamente
para que tu um dia
te libertes de vez
e possas navegar na luz dos meus olhos