segunda-feira, 30 de junho de 2008

questiono-me

como é possivel
conheceres-me
tão mal
como vives feliz (?)
na tua vida (?)
tão oca que até faz eco
quando te tornaste
tão arrepiantemente cinzento
como me pudeste perder
e ter orgulho nisso
como pude um dia
sequer olhar para ti

hoje tenho orgulho em ti

hoje tenho orgulho em ti
no que és
no que te deixei ser
hoje sei que cresceste
que serás grande
em todos os sentidos
hoje digo que te amo
enquanto digo ao mundo
que estou feliz
por te ver crescida
calma, forte
menos indecisa
hoje digo-te por escrito
que tenho orgulho
no que te tornaste
no teu futuro
que será brilhante
certamente
e que será só teu
hoje digo-te
que te deixarei voar
porque sei que regressarás
sempre

domingo, 29 de junho de 2008

quinta-feira, 26 de junho de 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

recortes ignorados

há tantas vidas recortadas
tantos céus de azul intenso

recordações


perspectivas

há sempre duas perspectivas

isto não é um pote

terça-feira, 24 de junho de 2008

segunda-feira, 23 de junho de 2008

e tu nem soubeste que te vi

ontem vi-te tão curvada
em pesos nunca sonhados
vi-te a pele encarquilhada
escondida atrás dos risos
senti instantes da vida
escorrer-te por entre os dedos
nos socalcos em que te moves
bem fundo
nos teus degredos
ontem vi-te
de passagem
em cenas idealizadas
vi-te em casas
de romances
em curvas bem apertadas
ontem vi-te
nos riachos
que carregas como cruz
em aguas tão cristalinas
onde só transborda a luz
vi-te em crias que defendes
em noites de tempestade
ontem vi-te da janela
e tu nem soubeste que te vi

domingo, 22 de junho de 2008

hoje descobri flores novas na tua janela

o tempo vela a eternidade


não suspendas o tempo
em suspensões irreais
vive
sofre na pele
rebela-te
ama
odeia
mas não percas tempo
com o tempo
em iras tão insensatas
parte de onde estás
ignora o teu redor
se sentires que é certo
o teu caminho
não julgues os teus momentos
esculpidos em pedras duras
o tempo será eterno
só tu é que não perduras

sexta-feira, 20 de junho de 2008

talvez um dia

momentos

simplesmente intenso

um dia chegaste cedo

um dia chegaste cedo
em galas não usuais

hoje não te peço que leias

hoje não te peço que leias
as palavras que traduzo
peço-te só que me sintas
em imagens distraidas
de abandonos

quinta-feira, 19 de junho de 2008

hoje sinto flores

hoje sinto flores
quando me movo no cheiro
da sua fragilidade
hoje as flores
coloriram-se só para mim
matizadas de cheiros fortes
e trouxeram árvores
exuberantemente verdes
não corre nenhuma brisa
a natureza estática dinamiza-se
em maravilhas simples
feitas de pássaros
prisioneiros de instintos
e de flora instintivamente livre
hoje está um belo dia
e eu estou à flor da pele

busco-te em palavras


busco-te em palavras
redondas
que não ferem
sentimentos
palavras afáveis
depois de tantas agrestes
percorro os dias
em que o sol cresceu
não me julgas capaz
de sentimentos nobres
nos dias em que te descubro
ferido
acocorado em cantos
sombrios
onde só eu escuto
o silêncio
da tua voz

nem todas as rosas


nem todas as rosas

têm espinhos

nem todas as casas janelas

nem todas as vidas muros

nem todas as coisas simples

passam despercebidas

terça-feira, 17 de junho de 2008

estamos sós

estamos sós
como tantos outros
solitáriamente em percursos
ora de vales
verdejantes
ora de montanhas
ingremes
em desalentos de solidão
repelente
entranhada em nós
invejámos tantas vezes
os que seguiam
em dias de risos
que queriamos nossos
um dia abriremos portas
de outras rotas
bloqueadas por códigos
desconhecidos
que procuraremos decifrar

segunda-feira, 16 de junho de 2008

estou em brancos


estou em brancos
puros de cal
sem contrastes ofensivos
estou em Alentejos
torridamente planos
em espaços minimalistas
feitos de tempos curtos
com angulos desconhecidos
atrai-me esta simplicidade
inusitada
desconhecida
fervorosamente calma

sábado, 14 de junho de 2008

há barcos ancorados


há barcos ancorados
a estacas
em águas muito turvas
mas que tornarão a navegar
em liberdade
exibindo toda a sua magnificência

há janelas que aparentam estar presas


há janelas
que aparentam estar
presas
mas que têm flores
e escondem
a sua intimidade
dos olhares devassos

sexta-feira, 13 de junho de 2008

há beleza até na decadência


há beleza
até na decadência
em cada tijolo exposto
em cada janela tapada
o sol arranja modo de iluminar
cada recanto
cada ângulo
à noite o candeeiro
mostrará outra faceta
desta beleza ignorada
e há tantos recantos destes
por todo o lado
e em todos nós

quarta-feira, 11 de junho de 2008

sei ser camaleão

desafias-me eu alinho
gosto de desafios
gosto de me superar
mostrar-te que estou desperta
em todos os sentidos
nesta pele
que não é a que conheces
essa foi-se
tenho outras
tenho muitas outras
gosto de as vestir
conforme entendo
sou ousada
enquanto timida
sou segura
enquanto insegura
sou verdadeira
enquanto hipócrita
mas é isso que te atrai
não serei cobra
como temes
mas sei ser camaleão

terça-feira, 10 de junho de 2008

hoje havia bichos por todo o lado


um dia mostro-te o meu coração e vais gostar

tenho os pés no chão
e o coração no peito
o coração não pode estar no chão
a menos que morto
suja-se, estraga-se
o coração não é feito
para estar nas mãos
nem no chão
no peito é o seu sitio
onde baterá
compassado ou
não
mas é feito para bater
com força
a menos que o corpo
esteja moribundo
e aí não serve de nada
só para vegetar
parte-se, cola-se
mas cicatriza sempre
e ainda que demore
recompõe-se
inicialmente em batidas tímidas
que aceleram os ritmos
dos outros dias
que restam
não, não tenho o coração nas mãos
não, isso não
guardo-o a sete chaves
no peito
castigo-o
quando se solta
mais do que pretendo
mas podes contar com ele
um dia mostro-te
o meu coração
e vais gostar.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

já só há sapos


já só há sapos
transformados em homens
os príncipes nunca o foram
restaram homens viscosos
vis, desumanos
homens-sapos
que coaxam
incessantemente
em charcos lamacentos
hoje nada me dizem
estou vacinada
adeus

domingo, 8 de junho de 2008

cada vez mais ocupada


estou em praias
próximas
em que os ventos
me libertam o calor
destes momentos
estou em dias
de sóis escaldantes
de pele
com gotículas de água
estou em pedaços
fortemente unidos
que constituem
o meu todo
estou em estradas
sinuosas de rectas
que me cruzam
em tantos desertos
estou em mim
cada vez mais ocupada

sexta-feira, 6 de junho de 2008

neste lugar

não chores
indevidos prantos
enquanto me cercam muros
não feches
todos os livros
em que tropeças em mim
os livros
são para ser lidos
morrem em prateleiras
não tenhas
mágoas sentidas
eu estive aí
em todos os momentos
das memórias
não peças
para as guardar
num canto
elas estão
em todas as prendas
de afecto
não fujas
em vão de ti
do caminho pela frente
segue-o
eu estarei lá
não desistas
da viagem
parte
se tiver de ser
o porto não foi ilusão
apenas não era seguro
ainda
não sonhes
só as memórias
voa,
ousa sonhar
permanecerei
em sons
em sombras
no ar
mas
permaneço
aqui
neste lugar

quinta-feira, 5 de junho de 2008

talvez um dia

um dia
em volúpias mescladas
de sons de mares de búzios
brancos
ocos de conteúdos
indiferentes ao sabor a nós
serpentearemos movimentos
em ondulações de areias
movediças
em perigos inquietos
um dia
cometeremos crimes
uma, outra e outra vez
em sopros de inspirações
de momentos insanos
e
contaremos histórias
fabulosas
sem desistências vãs
um dia
exibiremos com orgulho
as tatuagens
que com desvelo
realizámos na nossa pele
talvez um dia

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Carta

Não falei contigo com medo que os montes e vales que me achas, caíssem a teus pés.Acredito e entendo que a estabilidade lógica de quem não quer explodir, faça bem ao escudo que és.Saudade é o ar que vou sugando e aceitando, como fruto de Verão dos jardins do teu beijo.Mas sinto que sabes que sentes que também num dia maior, serás trapézio sem rede a pairar sobre o mundo, e em tudo o que vejo.É que hoje acordei e lembrei-me, que sou mago feiticeiro, e que a minha bola de cristal é folha de papel. E nela te pinto nua. Nua, numa chama minha e tua.Desconfio que ainda não reparaste que o teu destino foi inventado por gira-discos estragados aos quais te vais moldando.E que todo o teu planeamento estratégico de sincronização do coração são mais como paredes e tectos, cujos vidros vais pisando.Anseio o dia em que acordares por cima de todos os teus números, raízes quadradas de somas subtraídas, sempre com a mesma solução. Não podias deixar de fazer da vida um ciclo vicioso, harmonioso ao teu gesto mimado e à palma da tua mão.É que hoje acordei e lembrei-me, que sou mago feiticeiro, e que a minha bola de cristal é folha de papel. E nela te pinto nua. Nua, numa chama minha e tua. Numa chama minha e tua.Desculpa se te fiz fogo e noite sem pedir autorização por escrito, ao sindicato dos Deuses, mas não fui eu que te escolhi. Desculpa se te usei como refúgio dos meus sentidos, pedaço de silêncios perdidos que voltei a encontrar em ti.É que hoje acordei e lembrei-me, que sou mago feiticeiro. E nela te pinto nua. Nua, numa chama minha e tua. Numa chama minha e tua.Ainda magoas alguém. O tiro passou-me ao lado. Ainda magoas alguém. Se não te deste a ninguém, magoaste alguém a mim passou-me ao lado, a mim passou-me ao lado.
(Toranja- CARTA)

mente-me

mente-me
diz que estarás
sempre aí
que sentes a falta
que não te faço
que sou o sol que te ilumina
em noites de lua cheia
que entendes tudo
o que eu digo
e compreendes tudo
o que não faço
mente-me
diz-me que morres
um pouco
sempre que não estou
que sentes a falta
da minha pele
hoje mente-me
que eu não acredito

ontem lia-te

ontem lia-te
hoje escrevo-te
e se ontem te admirava
hoje admiro-me
do tanto que escondi
de mim e de ti
Photobucket

há tempos que o tempo


há tempos que o tempo
não desdenha
tempos temporariamente
temporários
há pensamentos que a razão
não sente
pensamentos pensativamente
pensados
há momentos que a memória
não reconhece
momentos momentaneamente
momentâneos
há acasos que o corpo
não espera
acasos casualmente
casuais
há dramas que os sonhos
não contemplam
dramas dramaticamente
dramáticos
há memórias que a chuva
não apaga
memórias imemoravelmente
memoráveis
há tempos certos para tudo
e ainda há tanto tempo
pela frente...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

visto-me de rosas pétalas

visto-me de rosas pétalas
em amostras coloridas
do que sou
quero mostrar-te
as minhas novas cores
fortemente suaves
vesti-las só para ti
inebriar-te
nos meus cheiros
maioritariamente inodoros
extasiar-te
na difusão da emoção
do que sei que sou
e não exibo
por contrastes
divergências
ou pudores
descobre-me hoje
nos rosas
e em todas as outras cores

tenho sonhos serenos


tenho sonhos serenos
tranquilos
momentos doces
de fácil abandono
em levitações
de meros sorrisos
tenho sonhos duros
muito agrestes
de espinhos profundos
que se enterram
na carne desprotegida
tenho sonhos cheios
e vazios
sonhos de cores
e de pretos, brancos e cinzentos
sonhos cálidos
e gelados
hoje os meus sonhos são doces
tão doces como tu
que também sonhas
em momentos mistos
de poucos sonhos e tantas realidades

a casa ficou deserta



a casa ficou deserta
sem sons
só ecos da tua ausência
envolta em teias
tecidas com arte e mestria
aprisionada em fios
deixou de respirar por si
abriu fendas
e deixou o vento entrar
em uivos alucinantes
com ele vieram as folhas
o pó
a poeira
o tempo arrefeceu tanto...
e na casa começou a derrocada

escrevo-te em recantos



escrevo-te em recantos
que só eu conheço
feitos de papéis
de folhas brancas
escrevo-te memórias
guardadas fundas
em dias de sol
de lua e mar
lembro-te os segredos
incontidos
em frases soltas
escrevo-te a saudade
que ainda tenho
daqueles momentos
em que ocultos
fomos procissões
rezas e prantos

reencontro?


percorro o teu nome
em suaves movimentos
enquanto permaneço
imóvel no tempo
em que parti
de ti
sinto-te na noite
invicta
em que nos descobrimos
em terras
de Pedro e de Inês
por entre
clandestinidades consentidas
feitas de sonhos
tão ternos...
neste hiato doloroso
vezes sem conta
as nossas estrelas
permaneceram separadas
temi tantas vezes
por elas
que desisti de olhar o céu
hoje atrevi-me
a procurar a tua
permanecem
aparentemente intactas
neste vastíssimo
universo
destino?
sorte?
reencontro?