segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

o Capuchinho Vermelho

-António, preciso que vás fazer este depósito bancário. Com a maior urgência! Por favor toma cuidado! Olha que neste envelope está todo o dinheiro de caixa do fim-de-semana! Não faças o depósito nas caixas automáticas porque podes ser visto! Vai ao balcão e preciso que sejas rápido! O talão de depósito tem de seguir, ainda hoje de manhã, para o contabilista!
-Certo chefe! Não se preocupe! Num instantinho estou de volta.
António era o estafeta novo da empresa. Era a primeira vez que lhe confiavam aquela tarefa. Teve de ser. O Natal está à porta. A loja cheia de gente e ninguém podia ser dispensado.
A caminho do Banco, António lembrou-se que, já que estava na rua, podia fazer uma passagem na Vodafone...só para ver as novidades...com um pouco de sorte talvez conseguisse fazer um choradinho à avó e quem sabe...em vez das meias...
Absorto nos seus pensamentos, esbarrou numa mulher de idade com aspecto andrajoso, derrubando-a.
-Ei! Veja lá por onde anda!
-Peço imensa desculpa, estava distraido! disse ajudando-a a levantar.
-Esta juventude já não é o que era! Uma falta de consideração pelos mais velhos, doentes, com reformas miseráveis, que nem dá para os remédios, uma pessoa cheia de dores e leva um empurrão destes...se ao menos tivesse dinheiro para comprar o anti-inflamatório, mas custa um dinheirão...nem para comer tenho dinheiro!
António condoeu-se com a situação, revendo aquelas frases tantas vezes ditas pela sua avó...
-Eu até lhe pagava o medicamento mas, de momento, não tenho dinheiro. À tarde recebo o ordenado. Se a senhora ainda andar por aqui eu ajudo-a a comprar!
-És um anjo! Mas doi-me tanto a perna depois da queda...se me ajudasses a chegar a casa...ficava muito agradecida. Não é longe. Moro já ali.
-É o minimo que posso fazer, dê-me o braço que eu ajudo-a.
António percorreu ruas e vielas embrenhando-se em zonas de Lisboa, totalmente desconhecidas para si...Começou a ficar preocupado, o tempo estava a passar mas não podia deixar a senhora sozinha, afinal tinha prometido...
Subitamente algo de frio e brilhante surgiu daquela mão outrora trémula.
-Passa para cá o dinheiro!
António ficou espantado, como era possivel isto estar a acontecer.
-Mas então a senhora não estava com a perna presa com dores?
-Claro que não!
-Então também era falso que precisava de dinheiro para comer?
-És um otário! Ainda não percebeste?
-O nosso encontro não foi casual?
-Ouve lá, tu és louro ou quê? Claro que não! Segui-te desde a loja. Sei que trazes bastante dinheiro.Passa para cá a massa e rápido!
António empalideceu, perante uma faca daquelas pouco poderia fazer...Entregou o envelope por entre suores frios. Tinha-a arranjado bonita! E agora...? Como iria explicar ao patrão?
Subitamente surgiram do nada dois individuos corpulentos. Manuel tremeu...É desta que vou morrer! pensou.
Abruptamente dirigiram-se à mulher manietando-a.
-PJ! A srª está presa por roubo e atentado à integridade física!
António sentiu as pernas a desfalecer.Graças a Deus! Que situação! Estava safo!

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