sábado, 20 de dezembro de 2008

o encontro

Joana sempre fora forte mas aquela notícia abalou-a. Ao fim de tantos anos de casada Maria dissera-lhe na cara que se ia divorciar. Ficou perplexa. Sem palavras.
-Pensa bem. É um passo muito importante. Tens uma família inteira que depende de ti.
Mas Maria estava decidida, o rosto frio e branco, os lábios afilados.
-Joana é a única hipótese. Não aguento mais! Sempre pensei ficar casada para o resto da vida mas este casamento é uma farsa há muitos anos. Eu é que não vi antes.
Joana tentou controlar o rosto estupefacto por tanta certeza.
-Mas como é que isto aconteceu? Casámos no mesmo dia. Somos amigas há quase 30 anos. Os nossos maridos saem tantas vezes juntos...
A frase ecoou-lhe na garganta. Seria uma amante? Sim só podia ser. E se era será que nessas saídas...Não! O seu marido nunca lhe faria isso! Será que não? Agora que pensava nisso...se o dela era uma jóia o fez...o seu...optou por ficar calada, as rugas de expressão acentuaram-se. Nunca tinha pensado tal coisa.
Olhou para Paula pedindo ajuda. Paula ostentava um sorriso pérfido.
-Ele nunca me enganou! Eu sabia que um dia isto ia acontecer! Nunca vos disse porque não me iam ouvir. E tu Joana és a próxima!
O semblante de Paula ia-se alegrando à medida que estas farpas eram disparadas em todas as direcções.
Joana fitou Maria aterrorizada.
-Como podes dizer isso se és nossa amiga ? Devias apoiar a Maria neste momento difícil.Que história é essa de que serei a próxima? O meu marido ama-me. Tenho um casamento feliz. Estável. Filhos maravilhosos.
Paula abanou a cabeça
-Vocês casadas são todas iguais, tapadinhas até dizer chega. Meu Deus! Nunca desconfiaste dos serões do teu marido? Das alterações de visual dele? Das idas ao ginásio? Da troca de carro por um descapotável? Dah!!!!
Paula era executiva e após um namoro de 7 anos, tudo acabara a dias do casamento. Tornou-se dura e frontal. Embora sabendo que podiam contar com ela, Joana e Maria sentiram-se desfalecer.
Os olhos agora lacrimosos de Maria não a demoveram.
-É bem feito! A culpa é vossa! Vocês vivem dedicadas a um homem e é o que dá! Olha para ti Maria! Há quanto tempo não vais ao cabeleireiro? E tu Joana? quantos quilos engordaste no ultimo ano?
Maria soluçou
- Pára! Estou farta da pessoa amarga que tu és! Tu não és amiga! És uma vibora! Nunca amaste ninguém!
Joana abraçou Maria e lançou um olhar de reprovação a Paula:
-Francamente, ultrapassaste todas as marcas! Que pessoa horrivel és tu? Sempre invejaste a nossa felicidade e o facto de termos tido filhos.Não prestas mesmo!
Paula reprimia a custo uma lágrima voltando a cara para o lado. Efectivamente estava só e a felicidadezinha de ambas sempre lhe causara inveja.
Maria já nada ouvia, de olhar parado confessava em voz quase imperceptivel:
-Tenho tanto medo de ficar só Joana.Tu sabes que ele me vai querer tirar os filhos, deixei de trabalhar quando nasceram, não vou encontrar emprego!
-Maria nem penses nisso, nenhum juiz tomaria essa decisão! Tu és uma mãe excelente e os teus filhos já tem idade para decidir com quem querem ficar. disse Joana enxugando-lhe as lágrimas.
Era a primeira vez que vira Paula chorar.

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