segunda-feira, 24 de novembro de 2008

a tempestade

Tal como José profetizara, subitamente, o vento mudou de rumo. As vagas agigantaram-se e o céu ficou tão escuro que mal se via a cabine do barco.
João lutava, heroicamente, para se manter em pé, agarrado ao mastro principal, que ameaçava a queda a qualquer momento.
Tinha de procurar um refúgio, as vagas não teriam dó nem piedade e a próxima arrastá-lo-ia, certamente, borda fora.
Prometera a si mesmo e ao velho José que ficaria ali, acontecesse o que acontecesse...veio-lhe à ideia o filho, tão pequeno ainda, talvez não o voltasse a ver...
"Disparate! Sou um lutador, havemos de sair desta" e um novo alento apoderou-se de si. Pelo seu filho não podia desistir, lutaria contra o mar, contra a ira dos deuses, contra todas as fúrias...
Uma corda, descontrolada, atingiu-o na face deixando-lhe um vergão profundo, conseguiu agarrá-la e prender-se. A custo abriu a porta da cabine e viu José, inanimado, com uma mão ensanguentada presa no leme.
Não havia tempo a perder, tinham de saltar para a água gelada . Puxou-o com todas as forças, colocou a corda em seu redor e saltou.
Já na água, colocou o seu braço, vigoroso, à volta do pescoço de José, para o manter à tona.
Os minutos tornaram-se horas, o barco virara-se impotente sucumbindo a toda aquela força.
Por agora, estavam vivos...
Lentamente o mar amansou, o céu recuperou a luz, mesmo quando o coração já batia tão devagar. A hipotermia começava a tomar conta dos dois " Mais um esforço" pensou "Umas braçadas e estavam a salvo"
A custo, içou-se para o que restava do barco, nunca largando a corda que o unia a José. Exausto, lutando contra as dores alucinantes que o percorriam, puxou com todo o cuidado aquele velho inanimado, de pele curtida pelo sol.
Sentiu então que estava só... mas em paz..

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