segunda-feira, 28 de abril de 2008

vejo-te todos os dias


vejo-te todos os dias
embrulhado nas manhãs
quentes
e geladas
volto a cara
como todos fazem
à tua imagem
incomodativa
hoje abordaste-me
pela primeira vez
olhei para ti
e vi de perto
a tua cara
suja e triste
pediste-me um cigarro
com gestos distorcidos
dei-to e segui em frente
deixando-te embrulhado
no amontoado das vestes
da tua vida
virei a esquina
mas retrocedi
regressei a ti
oferecendo-te dinheiro
a medo
para matares a tua fome
mostraste surpresa
com o gesto tão banal
esboçaste um sorriso
acenaste com a mão
sem um som
vislumbrei luz
no teu rosto opaco
e vi pela primeira vez
que ainda tens fome de vida

3 comentários:

Anónimo disse...

Bonito gesto...
Isósceles

Cristina disse...

nada de bonito...meramente humano

Anónimo disse...

...E haverá por aí alguém que da vida já esteja saciado?

Epicuro