segunda-feira, 31 de março de 2008

sigo as pegadas que deixaste

sigo as pegadas que deixaste
para mim
neste caminho
que tantas vezes percorremos
juntos
procuro deixá-las intactas
como tudo aquilo em que tocaste
questiono-me onde acabarão
mas sigo-as no instinto
que me faz chegar a ti

hoje vejo o mundo...às cores

hoje vejo o mundo
às cores
sigo o rasto de algodão das nuvens
sinto na minha pele
o calor suave do sol
que finalmente ousa despertar
deixo a brisa leve
brincar no meu cabelo
enquanto admiro as flores
que brotam tímidas
do solo outrora livre

hoje estou tão bem
que vejo tudo
até o doce chilrear dos pássaros

o dia em que brinquei só para ti


hoje assolaram-me
as saudades
do tempo
em que éramos crianças
e trocávamos as palavras
mais bonitas que encontrávamos
tenho tantas saudades de ti
do teu ar sério
quando bateste à minha porta
para me informares
com tristeza
que
hoje não podíamos brincar
acordaste cheio de borbulhas
em sítios que nem me podias contar
deixaste-me impacientemente à espera
que essa maleita te passasse
via-te à janela enclausurado
e brincava na rua só para ti
passou o tempo e crescemos
cada um para o seu lado
um dia revi-te e relembrei-me
do dia em que tiveste essas borbulhas
partiste de vez
estupidamente
mas ainda hoje lembro
com saudade
o dia em que brinquei só para ti

cerejas

gosto de ambas
das conversas
que fluem sem destino
das cerejas
coloridas reluzentes
alimento-me
das palavras coloridas
que tantas vezes trocamos
reluzentes
saciam-me a fome
enquanto brinco
com as cerejas
lisas e carnudas
como quando éramos crianças
lembras-te dos brincos que me davas?
hoje fiz o mesmo
coloquei-as no seu sítio
e
ao espelho
revi-me nesses tempos
tão felizes
em que me davas cerejas
como brincos
e te extasiavas a olhar para mim

domingo, 30 de março de 2008

sempre junto de mim


olho de soslaio a sombra
que me segue
já não sinto medo
é parte integrante de mim
acompanha-me
em todos os momentos
em que me exponho
por vezes disforma-me
mas pelo menos está aqui
sempre junto de mim

hoje sinto a primavera nos meus poros

hoje estou entre a chuva e o sol
da tristeza caiem lágrimas
do riso sai calor
na suavidade de um dia fácil
hoje as minhas mãos sentem-se bem
no teu toque suave
que adivinho
falta-me ainda o calor do sol
escondido pelas nuvens
que te ensombram
vagueio sem destino
nos jardins que plantaste
só para mim
inalo o odor das nossas flores silvestres
e abraço-as
só pelo prazer de as sentir
frágeis, belas, coloridas
e poder imaginar-te aqui
junto a mim
hoje sinto a primavera nos meus poros

sábado, 29 de março de 2008

become your dream


sei que autoflagelas a carne
para cicatrizar as dores
porque as drogas
adormecem-te sem sentido
e não te fazem esquecer
os abutres que te povoam o sono
alagando-te em suor as noites
desproporcionadamente grandes
em que, em vão,
procuras os sonhos bons
sentes o cheiro da carne putrefacta
que te dá vómitos
vês as pústulas infectadas
e tens repulsa dos pesadelos que
inconscientemente
construíste
aprende a deixar de sonhar
become your dream

o mais fácil era parar de pintar


procuro-me no silêncio da noite
não estás cá
estou só
como sempre estive
afugento a solidão
transcrevendo para a tela
onde me pinto
a minha caligrafia mais perfeita
moldo os meus traços indeléveis
faço sombras nos locais correctos
escolho as cores do meu retrato
pormenorizo à exaustão
todos os meus detalhes
afasto-me
e contemplo ao longe
a minha obra
não me revejo em nada do que pinto
falta-me a ténica
que nunca me foi ensinada
é o que consigo de momento
no instinto do que sou
vou avançando
com base nas experiências
que tanto procuro esquecer
complico tudo aquilo em que toco
quando o mais fácil era parar de pintar

sexta-feira, 28 de março de 2008

temo saturar o teu olfacto


tenta encontrar-me
na distância de um beijo suave
fecha os teus olhos e
sente
na brisa que passa
o cheiro com que te embriago
perdurarei
no sabor do vento
que tantas vezes te fustiga
o rosto cansado
espalhando-me em partículas
entre a luz e as trevas
na rotatividade do tempo
rígido, austero,
tantas vezes fútil
perfumo-te o coração
mas temo saturar o teu olfacto

é mais prudente não criar amarras



desvias o teu olhar do meu
aproximas-te quando estás longe
afastas-te quando estás perto
envias sinais incertos
que procuro traduzir
estás perdido
sem saberes exactamente
o que pretendes
de mim, de ti,
de nós
inventas-me no tempo
a medo
nas interrogações
que fazes de mim
sou mais do que isso
desconheces
nem tens de o saber
estou-me a construir
em enigmas
que poucos decifram
não me mostro
no oceano de sentimentos
em que navego
posso ficar perto de ti
junto a terra
ou ousar ir mais longe
nesta odisseia
opto por me afastar
é mais prudente
não criar amarras

quinta-feira, 27 de março de 2008

suspendo a respiração


suspendo a respiração
olhos nos olhos
leio-te a alma
identifico-me em partes de ti
denego-te os dias
os minutos, as horas, os segundos
em que fugi de mim
dou-te todos os outros
de que disponho
em partes
equitativamente iguais
entre todos os interesses difusos
em que hoje me disperso
não há promessas
hoje indemnizo-te os actos
amanhã não sei
é um novo dia
onde me reinventarei
desfazendo pacientemente
os nós do emaranhado
do que fui ontem
continuarei egoisticamente
a minha tarefa
de reconstrução dos laços
que desfiz

quarta-feira, 26 de março de 2008

falta-me a inspiração


procuro nas palavras desocupadas
as certas para este momento
as luzes tornam-nas translucidas
e dificultam-me a escolha
queria concretizar-te
e não sei como
queria definir-te
e disperso-me em círculos
concêntricos
agrupo as palavras
em linhas rectas
e liminarmente desisto
falta-me a inspiração

terça-feira, 25 de março de 2008

tenho sempre espaço para ti


cedi ao teu pedido
olhaste-me com os teus olhos
mais ternos e
resultou
no fundo foste o pretexto
que me faltava
pressentiste que não queria
e agora somos cumplices
dos segredos inocentes
que guardamos
como quando
a meio da noite
me questionas
em sussurro
se tenho espaço para ti
e te esgueiras
para a minha cama
aninhando-te em mim
como se ainda ontem me tivesses deixado
não sei porque teimas em questionar-me
tenho sempre espaço para ti

sábado, 22 de março de 2008

boa viagem

estamos sós
e sinto-te próxima
cada vez mais
orgulho-me de ti
da ousadia que não tive
não concordo com tudo
mas aceito-te
como pensas que és
gosto que te enrosques
em mim
pedindo a protecção
que não admites
vejo-te insegura
na firmeza que aparentas
conheço-te as mágoas
que não admites ter
somos parecidas
embora o rejeites
deixo-te seguir o caminho
que não sabes qual será
a liberdade que te dou
faço-o por te amar
não quero proteger-te
do que não posso
nos cruzamentos saberás
qual a tua direcção
sei que no fundo
a tua decisão será correcta
para ti
e se não for
podes sempre
fazer inversão de marcha
e voltares para mim
a tua estrada é larga
e leva-te onde quiseres
só te posso desejar
boa viagem

sexta-feira, 21 de março de 2008

sei que estou aqui comigo


gosto da solidão
quando escrevo de mim
para mim
gosto de sentir-me
enquanto liberto
as culpas e os medos
gosto da independência
do tempo
de respirar quando preciso
de vaguear nas memórias
de todos os passados
gosto de partes de mim
adormecidas
procuro-me
e sei que estou aqui
comigo
numa das minhas facetas

tenho dias em que floresço no deserto


o tempo aproxima-se do infinito
enquanto te esfumas
na minha mente
acendo um cigarro
e observo
as curvas sinuosas
do meu fumo
perdi a conta aos dias
em que não vivi
enrosco-me
na parte confortável de mim
esgueiro-me da outra
ultrapasso-a lentamente
contornando a curva
do que fui
esqueço tantas vezes
os silêncios que me despistaram
procuro seguir
sem desvios
a estrada
as paragens faço-as por cansaço
não por gosto
compreendes dentro do incompreensível
questionas-me
sem me julgares
nas respostas que te dou
surpreendo-me
afinal não é só o cansaço
sinto na pele
o tempo a fugir de mim
a estrada em que conduzo
já por instinto
tantas vezes se torna longa
assustadoramente sem vivalma
o telefone emudeceu
e tenho dores no peito
tantas vezes
que já lhes perdi a conta
aprendi a controlá-las
tenho dias em que floresço no deserto
noutros definho

quarta-feira, 19 de março de 2008

What else?






SEVILHA claro!

sábado, 15 de março de 2008

Photobucket

não me ocupas espaço

respiro por mim
sem te sentir
o bafo quente
do teu espectro
deixei fugir o medo
de me encontrar
rasgo-te as cartas
pedaços de ti
destruo os teus selos
colados em mim
parto-te os lacres
selo-te a porta
ignoro-te a vida
tenho um mundo
inteiro pela frente
sem sombras
com as cores
com que o quiser pintar
deixaste de ter
a importância que te quis dar
simplesmente não existes
não me ocupas espaço
posso-te contar
tudo o que não sei
e ainda
falar-te de mim
sem nada dizer
posso sonhar
os teus sonhos
não posso viver
a vida por ti