sábado, 13 de junho de 2009

Despeço-me assim de ti por não ser capaz de o fazer de outra forma.

"Despeço-me assim de ti por não ser capaz de o fazer de outra forma.
Acredita que passei por momentos de hesitação.
Gostaria de partilhar esta aventura contigo, mas não seria capaz de te impor tal desafio.
Sentirás a solidão da minha ausência, mas ela fortalecer-te-á e certamente encontrarás o teu caminho, tal como eu o faço agora.
Até sempre!"
Pousei com insegurança aquele bilhete, que sabia ser curto demais. Imaginei a tua dor ao lê-lo mas nem isso me demoveu.
Fechei as duas malas grandes, olhei em redor e senti saudades de nós.Um suspiro soltou-se do meu peito mas foi abafado pela buzina do táxi. Não havia tempo a perder, o avião partia em breve. Um ultimo olhar e fechei definitivamente a porta.
O taxista aproximou-se arrancando-me as malas das mãos.
Partimos em silêncio, reparei que, de quando em vez, me olhava pelo espelho do retrovisor procurando respostas para a minha ausência. Não lhas dei. Ignorando a sua fixação inquisitória, virei a cara e o meu olhar, sem ver, percorreu todo o caminho entrecortado por silhuetas de árvores.
Parou o carro com brusquidão.
"Chegámos! - disse-me estendendo a mão - são 35€!".
Fiquei imóvel. "São 35€!! "- repetiu já irritado.
Procuro a carteira por todos os bolsos do meu fato e nada. Lembro-me de a ver... em cima da nossa cama, junto ao passaporte...
Talvez seja um sinal, pensei aliviado.
"Temos de voltar, por favor!"
Olhou para mim , com cara de poucos amigos e arrancou arrastando-me de novo.
O caminho soube-me a eternidade, ao chegar vi o teu carro, acelerei o coração e um frio intenso percorreu-me o corpo. Subi as escadas de rompante. A porta estava entreaberta e só os teus soluços cruzavam o silêncio.
Impeliu-me um abraço forte enquanto retirei suavemente o bilhete das tuas mãos trémulas.
"Deixa estar. Esquece! Eu não pensei. O meu caminho és tu, só agora tenho a certeza."

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