sábado, 13 de junho de 2009

Cheguei a horas

Cheguei a horas. Estão mais duas mulheres na sala de espera, não falamos, vamos pousando, à vez, as revistas ultrapassadas que já lemos e relemos. Olho de soslaio as suas barrigas enquanto afago a minha, bem maior. Sinto um forte pontapé que me faz sorrir enquanto faço outra festa.
Chegou mais uma mulher, de rosto duro e um grande saco. Os nossos olhares viram-se instintivamente para a recém-chegada que nem nos cumprimenta. Nota-se inquietude no seu semblante. Deve ser o seu primeiro filho entreolhamo-nos complacentes. Remexe no saco, uma e outra vez, enquanto pega e larga as revistas que cuidadosamente alinháramos sobre a mesa. Senta-se e levanta-se indecisa. Excluimo-la do grupo. Subitamente afunda as mãos no saco donde retira uns tubos, uns fios e um relógio.
Olhamos de soslaio com um interesse comedido. Imediatamente nos apercebemos da loucura do seu acto. Sinto frio, tenho de sair. Pensámos o mesmo em sintonia levantando-nos de olhos postos no artefacto.
"Sentem-se" gritou
"Ninguém sai! "
E nós obedecemos, instintivamente, agarradas à barriga que afagáramos.

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