terça-feira, 10 de março de 2009

Hoje

Hoje a chegada foi diferente. Um grande tumulto à porta anunciava um mau presságio.
O Manel chorava, amparado por colegas que desconhecia ter. O rosto empapado, traído por aquele beicinho de adolescente que quer ser adulto mas ainda não é.
Hoje o Manel estava ali, à porta, num desespero de homem imberbe.
Investida na minha autoridade de tia, larguei o carro e aproximei-me.
Reconheceu-me e soluçou ainda mais.
"Tia! Tia!" de repente tenho mais sobrinhos do que a minha arvore genealógica comporta.
" Ele viu tudo!" fiquei na mesma.
"Tudo o quê?" arrisquei intrigada.
" Tudo! Mesmo tudo!- confirmou-me um coro de vozes- o homem!"
Franzi o sobrolho " Que Homem?" olhei em redor.
" O que morreu!" disse-me uma cara nova.
" Morreu um Homem? Onde?" estou incrédula.
"Ali - apontaram-me em surdina- na passagem de nível!"
"Vi tudo!" disse Manel com olhos de terror.
Imagino a cena tão dura para uns olhos tão novos.
Abraço-o e contenho-lhe os soluços que, em espasmos, lhe atravessam o corpo.

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