lanço-te palavras ao vento
devolves-me indiscretos ecos
não sabes ler o vento
não sentes a minha pele
maldição a minha
redescobrir-me, libertar-me de algumas das camadas de pele que teimam em não cair, reinventar-me expondo a minha nudez...
sábado, 31 de janeiro de 2009
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
o quarto mudou de cor...
O quarto mudou de cor, de tamanho, de tudo. Azul, agora é azul. A cama cresceu tanto, arrefecida pela tua ausência, como a detesto! Arrastei aquele biombo de patos tolos e virei-lhe as costas. Os dois candeeiros tortos ainda desafiam a gravidade. No psiché jazem colares e vejo-me envelhecer todos os dias. A gata teima em subir para a televisão para ver o jardim por entre os cortinados. Já não a afasto. Ocupei o roupeiro todinho para que não reste qualquer espaço ou recordação de ti. Já nada sobra, já nem tenho espaço para mim. Os sapatos multiplicam-se como coelhos numa cartola. Um dia encerro este quarto de vez. Juro!
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
dejá vu
Joana empalideceu, deixando cair o telemóvel de André. As lágrimas escorrerram-lhe pela face. Deixou-se cair na cama, sem alento, com o coração disparado. Automáticamente baixou-se para apanhar o telemóvel e tornou a colocá-lo exactamente no sítio onde o encontrara.
A água do banho parara de correr ao sabor das palavras que lhe martelavam a cabeça. "Estou grávida! Um beijo Meu Amor!"
Levantou a cabeça e viu-se reflectida no espelho do psiché, mais feia do que alguma vez fora. Estava gorda naquela camisa de noite de flanela grossa por debaixo do roupão de nylon, soterrado de borbotos. Nos pés as meias grossas de cor berrante que comprara em saldos.
André apareceu cheiroso, embrulhado numa toalha, deu-lhe um beijo na testa:
-Olá bébé!.
André, 50 anos, alto, corpo ainda atlético, sempre bem vestido, gerente bancário. Joana, 39 anos, baixa, forte, complexada, de aspecto desleixado, dona de casa.
A água do banho parara de correr ao sabor das palavras que lhe martelavam a cabeça. "Estou grávida! Um beijo Meu Amor!"
Levantou a cabeça e viu-se reflectida no espelho do psiché, mais feia do que alguma vez fora. Estava gorda naquela camisa de noite de flanela grossa por debaixo do roupão de nylon, soterrado de borbotos. Nos pés as meias grossas de cor berrante que comprara em saldos.
André apareceu cheiroso, embrulhado numa toalha, deu-lhe um beijo na testa:
-Olá bébé!.
André, 50 anos, alto, corpo ainda atlético, sempre bem vestido, gerente bancário. Joana, 39 anos, baixa, forte, complexada, de aspecto desleixado, dona de casa.
No quarto, sempre num brinco, pululavam tapetes de diferentes tamanhos e padrões que ocultavam parcialmente o chão, polido dia sim, dia não. Os naperons de crochet, cuidadosamente embebidos em goma, protegiam os móveis dos riscos dos bibelots.
Hoje não havia pequeno almoço cheiroso porque o mundo desabara antes das 7h da manhã.
André já parcialmente vestido, olhava de novo Joana, sentada, imóvel na borda da cama. Algo de errado se tinha passado. A medo agarrou no telemóvel e apercebeu-se imediatamente do que acontecera. Leu de soslaio as mensagens e explicou na sua voz mais terna:
-Bébé, só pode ser uma brincadeira, não conheço ninguém com este nome. Juro-te pela alma da minha mãezinha!
Joana não o ouviu, na mão apertou o teste de gravidez que, abruptamente, enfiou no bolso do roupão.
André tentou falar mas a voz não cedeu, insistiu e num impeto confessou:
-Já te devia de ter contado, mas tu estiveste doente tanto tempo naquele Hospital, que numa das visitas, já lá vão 5 anos, conheci uma pessoa. Juro-te que ela não significa nada para mim. Eu nem quero ter filhos, lembras-te? Isto foi a gota final. Acabou de vez! És a mulher da minha vida!
Joana continuou, imóvel, a olhar o espelho do psiché. Acariciou o bolso e não impediu que uma nova lágrima traiçoeira se esgueirasse. Num impeto correu para a porta da rua e saiu. Chovia torrencialmente, naquele dia de Inverno. A chuva colou-se-lhe ao corpo torneando aquelas formas que há anos procurava ocultar, em vão. Continuou a correr até as pernas fraquejarem junto ao mar. Deixou-se cair em desalento na areia molhada e aninhou-se olhando as vagas. Sentiu calor a sair do seu baixo ventre e desmaiou.
Acordou numa cama de hospital. Percebeu tudo, na troca de olhares tristes da sua avó que lhe afagava a mão com tanto amor.
Hoje não havia pequeno almoço cheiroso porque o mundo desabara antes das 7h da manhã.
André já parcialmente vestido, olhava de novo Joana, sentada, imóvel na borda da cama. Algo de errado se tinha passado. A medo agarrou no telemóvel e apercebeu-se imediatamente do que acontecera. Leu de soslaio as mensagens e explicou na sua voz mais terna:
-Bébé, só pode ser uma brincadeira, não conheço ninguém com este nome. Juro-te pela alma da minha mãezinha!
Joana não o ouviu, na mão apertou o teste de gravidez que, abruptamente, enfiou no bolso do roupão.
André tentou falar mas a voz não cedeu, insistiu e num impeto confessou:
-Já te devia de ter contado, mas tu estiveste doente tanto tempo naquele Hospital, que numa das visitas, já lá vão 5 anos, conheci uma pessoa. Juro-te que ela não significa nada para mim. Eu nem quero ter filhos, lembras-te? Isto foi a gota final. Acabou de vez! És a mulher da minha vida!
Joana continuou, imóvel, a olhar o espelho do psiché. Acariciou o bolso e não impediu que uma nova lágrima traiçoeira se esgueirasse. Num impeto correu para a porta da rua e saiu. Chovia torrencialmente, naquele dia de Inverno. A chuva colou-se-lhe ao corpo torneando aquelas formas que há anos procurava ocultar, em vão. Continuou a correr até as pernas fraquejarem junto ao mar. Deixou-se cair em desalento na areia molhada e aninhou-se olhando as vagas. Sentiu calor a sair do seu baixo ventre e desmaiou.
Acordou numa cama de hospital. Percebeu tudo, na troca de olhares tristes da sua avó que lhe afagava a mão com tanto amor.
sábado, 24 de janeiro de 2009
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Assim é Cascais na despedida
A terra afastava-se lentamente de mim como que suplicando-me para não partir. A água rodeava-me abraçando-me. Lentamente o casario suspenso nos penhascos deslizava, como se a sua imobilidade se tivesse tornado desnecessária. As praias sucediam-se entre areias brancas e escarpas recortadas pela ira do mar, hoje calmo. O comboio corria procurando acompanhar-nos percorrendo a terra que ora subia ora descia a seu belo prazer. Pontilhada por torres altas agressivamente dissonantes, sucediam-se, palmeiras, penhascos, casas com história, aqui e acolá guindastes agigantavam-se sobre os esqueletos dos novos prédios. Hoje o Tejo beijava-lhe suavemente os pés enquanto do outro lado o mar hesitava entre a valentia e a cobardia. A bela fortaleza tão esquecida perdeu o belicismo e observava os barcos indolentemente ricos enquanto protegia os outros, assombrados por bandos de frenéticas gaivotas .
Assim é Cascais na despedida.
domingo, 18 de janeiro de 2009
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
disseste-me com pena
que já não me poderias ajudar
como te enganas
que não tive culpa
que tudo já tinha acontecido antes
sei que sim
mas isso não diminui a minha culpa
que tinhas pena
é verdade
mas nem todas as verdades
são sinceras
a vida não se muda
segue o rumo destinado
por algum desígnio oculto
e quando me disseste
que era a ultima despedida
que esperavas por mim
acreditei
cumpriste o prometido
e eu cumpri a minha promessa
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
O meu nome é Fish
O meu nome é Fish. "Bué de fixe" para o meu dono.
Vivo aqui nesta água que, de vez em quando, ele se esquece de mudar.
Ainda bem que ontem foi dia de lavagem... esta coisa de ter de andar aqui às voltas já é um sufoco e sem conseguir ver nada para fora imaginem...
Aquela gata, ranhosa, que está ali é a Mathilde e aquela cadela, pindérica, é a Buhh.
Estão muito amiguinhas para o meu gosto.
Estão a tramar alguma.
Ok. Estão a olhar para mim!!!!
Tenho de disfarçar.
Mais uma voltinha lá,lá,lá...
Meu Deus! Agora juntou-lhes a outra gata rafeira que tem nome de cão, a Odie.
Isto não vai correr bem...é melhor dar outra voltinha e disfarçar, lá,lá, lá...respirar fundo...
Acho que estou a hiperventilar!!!! Vou fazer bolhinhas! Glu, Glu, Glu...
Bolas!!!!
Estão a aproximar-se e não gosto do ar ameaçador...
Eu não disse que esta cadela é mesmo estúpida? Em vez de andar atrás dos gatos, vem atrás de um peixinho inocente como eu? Ela nem gosta de peixe!!!!!
Subitamente ouve-se um Dling, Dlong. Do outro lado da porta alguém grita " Correio!" A cadela começa a ladrar e as gatas,assustadas, partem o jarrão chinês.
Safa! Escapei de boa. Benditos CTT!
Agora quero ver a reacção do meu dono quando entrar na sala.
Ainda bem que estou aqui às voltas dentro de água...
Eu não fui!
Vivo aqui nesta água que, de vez em quando, ele se esquece de mudar.
Ainda bem que ontem foi dia de lavagem... esta coisa de ter de andar aqui às voltas já é um sufoco e sem conseguir ver nada para fora imaginem...
Aquela gata, ranhosa, que está ali é a Mathilde e aquela cadela, pindérica, é a Buhh.
Estão muito amiguinhas para o meu gosto.
Estão a tramar alguma.
Ok. Estão a olhar para mim!!!!
Tenho de disfarçar.
Mais uma voltinha lá,lá,lá...
Meu Deus! Agora juntou-lhes a outra gata rafeira que tem nome de cão, a Odie.
Isto não vai correr bem...é melhor dar outra voltinha e disfarçar, lá,lá, lá...respirar fundo...
Acho que estou a hiperventilar!!!! Vou fazer bolhinhas! Glu, Glu, Glu...
Bolas!!!!
Estão a aproximar-se e não gosto do ar ameaçador...
Eu não disse que esta cadela é mesmo estúpida? Em vez de andar atrás dos gatos, vem atrás de um peixinho inocente como eu? Ela nem gosta de peixe!!!!!
Subitamente ouve-se um Dling, Dlong. Do outro lado da porta alguém grita " Correio!" A cadela começa a ladrar e as gatas,assustadas, partem o jarrão chinês.
Safa! Escapei de boa. Benditos CTT!
Agora quero ver a reacção do meu dono quando entrar na sala.
Ainda bem que estou aqui às voltas dentro de água...
Eu não fui!
sábado, 3 de janeiro de 2009
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
e o coração me trai de dor
despeço-me de ti
com um beijo
cheiro o teu cabelo
afago o teu rosto
enquanto me perco
nos teus braços trémulos
dizes-me uma frase
de despedida
e em mim
escorrem aquelas lágrimas
que nunca te quis mostrar
vejo-te digno
como sempre
na ultima batalha
baixas os braços
resignas-te
e admiro-te
enquanto te deixo
rodeado de amor
e o coração me trai de dor
com um beijo
cheiro o teu cabelo
afago o teu rosto
enquanto me perco
nos teus braços trémulos
dizes-me uma frase
de despedida
e em mim
escorrem aquelas lágrimas
que nunca te quis mostrar
vejo-te digno
como sempre
na ultima batalha
baixas os braços
resignas-te
e admiro-te
enquanto te deixo
rodeado de amor
e o coração me trai de dor
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