quinta-feira, 29 de novembro de 2007



gosto de pessoas que entendem o silêncio do olhar

domingo, 25 de novembro de 2007

quem sou

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nem sempre sou
o que pareço
nem sempre pareço
o que sou
oiço-me
e não me escuto
escuto-me
e não me oiço
vejo-me
e não me olho
olho-me
e não me vejo
nem sempre
oiço a razão
quisera eu
um dia
pôr fim a este tormento
pudera eu
sem mais
pôr fim a este lamento
e tudo mudaria
talvez…
sei que gostaria
de lhe por cobro
um dia

falar de cor

Falo-te de cor
a memória
é traiçoeira
como o tempo
consome-se
na voragem
de uma chama
distorce-se
como ela
extinguindo-se
no final da combustão
como eu
as cores também se alteram
distorcidas
na agonia dessa chama
transmitem calor
às vezes intenso
outras nem por isso
espicaço-as
para não falar de cor

sábado, 24 de novembro de 2007

há quem seja um
eu sou vários
consigo ser tudo
sem ser nada
perco-me
na imensidão da busca
daquilo que verdadeiramente sou
esgoto-me.
e se parar fizer sentido?
deixar-me ir simplesmente...
sem pensar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

espelho

não sei bem o que sou
fugi dos espelhos
sei o que gostava de ser
cauterizei as feridas
em breve removo as ligaduras
vou-me imaginando
será surpresa
rever-me ao fim
desta atribulada
convalescença
só então procurarei um espelho
tenho saudades de me ver

terça-feira, 20 de novembro de 2007

pedras

Tropeço nas
Pedras do caminho
Afasto-as
Removo-as
E prossigo
Tropeçarei noutras
Nestas não
O caminho
Está repleto
Estou atenta
Desta vez
Terei cuidado
Prometo …
um dia
mudarei o rumo
renovarei a pele
sairei de mim

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

a cama tornou-se grande demais, desnecessáriamente....
acordo no meu canto, o resto permanece inalterávelmente esticado, não estás lá, há muito...
tento congelar, nas noites em que é dificil gerir a solidão desta cama que teima em crescer.
às vezes, mesmo no meio da noite, pressinto calor, acordo em sobressalto, foi o medo que te trouxe junto a mim, pedes-me se posso partilhar contigo esta imensidão gelada, enroscas-te ...respiro fundo
ainda bem que a cama está vazia!

sábado, 17 de novembro de 2007

há coisas que sempre me fizeram sorrir como, por exemplo, quando as pessoas de idade se referem a pessoas, que conheceram na sua juventude, como "aquele rapaz" ou "aquela rapariga", parece-me estranho... dá vontade de dizer "dah! já te viste ao espelho", outra coisa também gira é que quando olham para essas pessoas normalmente dizem "está muito velho/velha" ou "um caco"...
o que deixou de me fazer sorrir é que eu já começo a fazer o mesmo e aí já não tem piada nenhuma, é até triste!
primeiro porque a expressão pessoas de idade é escorregadia, deixou de ser aplicável a trintões para passar de década em década e actualmente se situar nos octogenários, e tenho sérias dúvidas que vá ficar por aqui...
depois reparei que, ao ver ex colegas de escola, digo sempre "andei com aquele rapaz", às vezes acrescento um "salvo seja", quase sempre diga-se de passagem...mas essa de eu não conseguir dizer "andei com aquele homem na escola" anda-me a fazer confusão...
já não me faz tanta confusão dizer "aquela está um caco" ou sair-me um pensamento tipo "meu Deus, como está velha!", aqui encontro uma justificação, é que todos à minha volta envelheceram mesmo e muito, eu cá não, eu estou igualzinha!
apercebi-me, há já algum tempo, que atraio casos perdidos...passo a explicar:
não sei bem como, todas as pessoas com algum desequilíbrio notório, e quem sou eu para afirmar isto, também é verdade…mas estamos a falar de pessoas com discursos incoerentes mesmo. Mau ! então e o teu discurso é coerente? …pois…nem sempre, admito! Mas estava eu a dizer… essas pessoas sentem-se compulsivamente atraídas por mim, vá-se lá saber porquê...falam, falam, falam e aqui eu uso o meu olhar de que já falei, aquele de quem está a perceber tudo e até arrisco mesmo uns “pois é” , “tem toda a razão”, “a sério?” só para ir alimentando os monólogos e ver se aquilo termina rapidamente, às vezes consigo disfarçadamente, julgo eu, quando passa alguém por perto, lançar um outro olhar que tenho de reserva, aquele de pedir socorro, às vezes apercebem-se e socorrem-me, outras vezes não e ali fico eu em penitência….era mais fácil dizer que “não estou nem aí” e ir-me embora, mas não... tenho pena e imagino que um dia posso ficar assim...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

ele há a vida e a vidinha!
eu cá, como não gosto de sucedâneos (fazem-me alergia) ou tenho algo que se veja ou prefiro não ter, prefiro ter uma vida a sério do que uma vidinha daquelas tipo faz de conta.
Ao contrário de alguns(isto é uma boca que só poucos vão conseguir identificar a quem me dirijo), não pretendo ser filósofa, se bem que admita que filósofos sejamos no fundo todos nós, mas enfim, a minha filosofia talvez seja mais uma filosofia de trazer por casa, que eu até sou caseira q.b.
sou exigente eu sei, mas é só às vezes, garanto... mas aqui não cedo, desculpem lá! eu quero mesmo uma vida e mais nada, não me venham tentar impingir a treta de que com uma vidinha também estou bem servida, não adianta, não estou interessada, tenho pena!
com a idade relativizamos tudo, sabemos o que queremos ou o que não queremos.
a qualidade sobrepõe-se à quantidade e, em teoria, já deveriamos saber separar o trigo do joio.
já não nos magoa quem quer mas sim quem pode e é a altura de nos confrontarmos com a nossa mortalidade, ambiguamente assustadora e desejada.
com a idade os objectivos mudam e começa a ser premente deixarmos terminadas as tarefas que sempre sonhámos conseguir realizar.
dizem também que com a idade criamos defesas! concordo, e ainda, quando se fala de defesa, que a defesa é o melhor ataque,vejo agora é que me enganei no campo, não percebo mesmo nada deste jogo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

foi há quanto tempo?
uma eternidade. tu já eras loira eu nem por isso, agora somos ambas, ups!
não me recordo como começou, também não importa, começou e pronto.
consigo contudo recordar as horas ao telefone, a conversa da treta, o deslumbre pelo que sabias e sabes mais do que eu.
permitimos que os homens nos afastassem um pouco, juntas faziamos sombra, eramos incómodas, resistimos o que pudemos, ainda há cumplicidade...
já não sabemos tudo uma da outra mas sabemos que estamos cá, para o que der e vier.
sei que tudo podia ter sido diferente se estivesses a meu lado, estive tentada, confesso, porém optei por proteger-te.
nada a fazer agora, resta seguir em frente e olha que se lixe.
vamos completando a memória que nos une.
não te condeno, em teoria aceito.
quero que sejas feliz, mas custa-me que queres?
nunca me tinha passado pela cabeça, tenho esperança que um dia descubras a verdade e que seja coincidente com a minha.
não renego, mas admito que o que me sai pela boca nem sempre é o que me vai na alma.
foi um golpe, ainda o é, vou tentar enterrar a cabeça na areia, sofro menos.
deixar de fumar é outra coisa que também tenho de fazer, eu bem sei.
faz mal,muito mal mesmo! é caro, cada vez mais caro! e os outros não têm culpa do meu vício e de levarem com o meu fumo, sei isso tudo.
mas também sei que gosto, dá-me prazer a seguir a um café,antigamente era-me fácil deixar de fumar, fi-lo por diversas vezes por "boas causas", as minhas filhas, agora a única boa causa que encontro sou eu mesmo e isso ainda não é suficientemente forte.
garanto-vos que já tentei...ok não com muita convicção admito, mas não podem dizer que não tentei... depois, não sei porquê, fiquei impossível de aturar, está bem pronto, eu já sou naturalmente impossível de aturar, mas ainda fiquei pior, a tal ponto que ao meu redor já, quase todos me ofereciam tabaco.
irrita-me contudo a fixação que os outros têm pelos fumadores, os olhares lancinantes com que nos olham e as "bocas" que nos mandam, passámos a ser criminosos.
ok até consigo admitir que poluir o ar é um crime mas por favor deixem-me fumar mais um tempinho, prometo que vou deixar...um dia, cross my heart.
lembrei-me agora do seguinte:
no meu tempo costumava-se dizer que, antes do morrer, devíamos plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.
ora bem, árvore, árvore, daquelas "à séria" mesmo, não plantei, mas já plantei tantas flores que, de certeza, todas juntas, já dão mais do que uma árvore.
filhos, filhos, tive três, portanto aqui até tenho a haver.
agora livro é mais complicado, não depende só de mim, demora muito tempo e não sei se vou conseguir...é que a imaginação já não é o que era, o português começa a ser macarrónico e gramática é tipo coisa que já nem me lembro...
a modos que, um livro, livro, agora não me dava muito jeito.
não sei quem inventou esta máxima mas os tempos mudaram e, se o fez, eu também posso inventar uma parecida:
"a vida para estar completa, há que plantar flores, ter três filhos e criar um blog"
pronto já está.
não é por nada, mas dá-me mais jeito assim e depois é menos uma coisa que tenho para fazer...

terça-feira, 13 de novembro de 2007

pois é... há muito que deixei a idade da prateleira,do armário ou do que lhe quiserem chamar, acabo de descobrir que agora estou mais na idade do que se lixe e, digo-vos que é uma idade lixada mesmo.
na idade da prateleira, coloca-se a criança barra adolescente num lugar qualquer, de preferência, fora do nosso alcance e vai-se lá buscar quando já estiver boa e isso demora uns anitos.
na idade do que se lixe, não só desconheço quanto tempo dura como o que se faz, já não há ninguém que me coloque em lado algum, que eu não deixo e também já quase nada me intimida, perdi o medo, podem dizer-me "ai, ai, estás feita ao bife!" e eu respondo: "que se lixe" não faço fretes.
também me costumam dizer "já tens idade para ter juizo!" e eu respondo: "que se lixe"
e pronto, aqui estou eu!

queria ser

queria ser
a página
em branco
onde escrevo
queria ser
livre
como o vento
que fustiga
queria ser
luz ou água
em movimento
queria ser
um dia
radioso de verão
queria ser
a brisa suave
do outono
queria ser
a estrela brilhante
para onde olho
queria ser
a vida que inventei
queria ser
a canção que mais gostei
queria ser
tudo para ti

queria ser
tudo
o que não sou

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

apareceu-me vinda do nada, um filho pela mão outro no colo, tocou-me à porta pedindo emprego,hesitei,a minha filha agarrou-se com força à minha perna e revi-me na sua figura, aceitei, sou impulsiva, às vezes corre bem...
passaram 17 anos, outros foram e vieram, nós continuamos juntas, os laços estreitaram-se, somos cumplices, confidentes, falamos da sua terra, dos seus irmãos, dos nossos pais, dos filhos que nos foram vindo e do quanto orgulhosas estamos dos seus passos, faz suas as minhas dores, adoptei-a, é minha Amiga, confidente, irmã, nunca dou ordens limito-me a fazer pedidos por escrito em papelinhos que só ela entende, acabo com um beijinho, sempre.
a vida é uma questão de numeros, quandos anos tens, quanto ganhas, quanto pesas, quanto medes, quantos filhos, quantos maridos,quantos amigos, quantos dias faltam para o subsidio de natal, quantos dias faltam para as férias,quantos anos esperas viver, quantos dias de atraso, quanto deves ao banco e às finanças...
assim, à primeira vista, por alto a minha conta já vai em cerca de 5.854, isto se não errei a soma o que é bem possivel...

domingo, 11 de novembro de 2007

Falas-me constantemente na liberdade de viver só de não ter de dar satisfações a ninguém…mas porque raio é que eu não gostaria de ter de dar satisfações a alguém? Eu passo a vida a dar satisfações, eu gosto de dar satisfações mesmo quando ninguém me perguntou nada...
Falo demais é isso...
Arrependo-me tanto de falar de mais…
Jesus, como eu falo demais...
como me exponho sem necessidade nenhuma...
e como gosto de pedir conselhos...
Jesus, aí sou mesmo boa...
peço conselhos a toda a gente...
Meus DEUS é mesmo verdade, devo ser uma profissional da indecisão…
peço conselhos por tudo e por nada…

Sou mesmo indecisa…Chiça!
A minha vida é tipo electrocardiograma, um amontoado de riscos e traços para onde olho e não percebo nada.
Às vezes penso que não existo mesmo.
Sempre fui certinha, se calhar em demasia e depois dei nisto.Drogada eu? Eu nem sei qual é o cheiro de um charro, só no liceu de S. João é que vi uma coisa que me pareceu ser um caldo knorr embrulhado numa prata, que o meu colega de carteira me mostrou a medo, e lembro-me de que fiz um olhar de entendido se bem que, ainda hoje, não sei ao certo o que era.
Ainda hoje faço esse olhar de entendido quando me mostram ou falam de algo que acham, e que eu sinto, que tenho obrigação de saber.
Uma coisa que me chateia mesmo é a mudança de gostos, hoje gostam de uma coisa amanhã acham que não e teimam, que nunca gostaram, às vezes fico a pensar que estou a ficar senil quando juram, a pés juntos, que nunca gostaram disso…fico mesmo preocupada, será que me enganei , mas eu tenho a certeza que gostavam…quase que jurava que sim…será que não?.

Já nem sei de que estava a falar misturo mesmo tudo, a minha vida é assim de caótica, até a falar sou assim, complico tudo, vou dar voltas para contar algo, mas as coisas precisam do contexto para fazerem sentido.

A vida é feita de contextos, é fácil julgar quando não se sabe o contexto em que as coisas acontecem.

(Did you know that when a penguin finds his mate they stay together for the rest of their lives...?)

sábado, 10 de novembro de 2007



Não aprendes mesmo. Nem tu nem eu…

Agora pareces querer aproximar-te ou estarei, mais uma vez, errada?
Sinto que não, mas se tu nem de Marte és… com sorte talvez de Neptuno… eu sou seguramente de Vénus, nunca poderia dar certo, depois o afastamento, as dores da vida fizeram-me crescer para um lado diametralmente oposto, duvido mesmo que alguma vez tenhamos verdadeiramente caminhado lado a lado.
...“não te esqueças que deste um empurrãozinho” mas que empurrão? Eu sou lá pessoa de empurrar alguém, tomara eu que não me empurrem, nem sequer na bordinha da piscina ou nos carrinhos de choque…

só me apercebi que tinha muitos filhos...

Só me apercebi de que tinha muitos filhos naquele dia em que sai à rua, com uma pela mão, outra no carrinho e uma ao pescoço numa bolsa, tipo canguru.
Aí pensei: quando forem maiores não vou ter mãos para todas …
E foi aí que começaram as guerras de quem dá a mão à mãe.
Como se, quem dá a mão à mãe, mostrasse assim ao mundo que era a mais amada.
Ainda hoje há guerras, agora, sobre quem vai à frente no carro e é vê-las, patéticas, a correr desalmadamente, a empurrarem-se para conseguirem levar avante os seus intentos, claro que já não tenho a veleidade que seja por querem estar mais próximo de mim, nada disso, o importante agora é saber quem controla o leitor de cd’s...
Vou-vos contar como foi: o comboio entrava na gare de Cascais, (nós, lembras-te? vínhamos do Liceu de S. João, andávamos então no 7º ano, no antigo claro que nós já somos das antigas!) a porta estava aberta, e tu dizes-me: “ salta” e eu estúpida que fiz? Saltei mesmo! Só que, duplamente burra, não corri, fiquei estática como um calhau.
Resultado: estatelei-me ao comprido e as calças rasgaram-se de alto a baixo pelas costuras.
Nem piei.
Uma vergonha descomunal, silêncio seguido de uma risada geral na gare e eu erguida a caminhar, como se nada fosse, com a minha pasta a tapar o rabo e uma mão a tapar à frente, com toda a dignidade, por fora, e por dentro a morrer de vergonha, o usual em mim.
Tal como não piei quando cortei parte da cabeça de um dedo a cortar gelo com uma faca quando tinha talvez 8 anos, nem um pio, pus o dedo na sanita a escorrer o sangue e tratei sozinha de tudo apesar do coração me teimar em saltar para a ponta do dedo.
Este coração partido, com cicatrizes que teimam em não sarar, que ninguém conhece nem eu própria.
O caminho para a escola serpenteado entre as Fontainhas, o Monte Estoril e o Estoril, onde diariamente passamos pelos “nossos passarinhos”, pelo “nosso Hotel” pela nossa “porta” e termina na nossa “Mathilde” onde inventamos histórias sobre a sua habitante, que hoje não tomou banho, que se está a ver ao espelho etc.
Ultimamente mudámos o circuito e vamos em direcção a Cascais, frente ao Hotel Estoril-Sol que em breve deixará de o ser… vemos a beleza do mar, com sorte o nascer do sol, o recorte magnifico da paisagem.
O regresso é sempre igual e todos os dias me extasio com a beleza da Baía de Cascais, diversificada consoante a época do ano mas sempre bela.
O meu sonho é um dia ter uma casa frente ao mar, de preferência com a vista da Baía de Cascais.
Um sonho…

coisas

Gosto da intimidade da noite, do seu silêncio,que me deixa reflectir, gosto do seu som, do seu cheiro, do luar, das estrelas.
Detesto-a quando não me deixa dormir, quando os minutos se transformam em horas, quando os ossos me doem, quando a cama fica fria.
Gosto da diversão, das luzes, do barulho dos carros a passar, gosto de conduzir, não me disperso com a beleza da paisagem, foco-me no principal, a estrada.
Há alturas em que acho que devia viver só à noite.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

momentos

É certo que ele tinha catorze mas não sei quem era mais infantil ou puro, foi uma surpresa o pedido de namoro, caiu do nada e eu sem hesitar disse que sim, escrevi o seu nome por todo o lado, vivi nas nuvens, finalmente alguém tinha reparado em mim, eu existia!

O namoro resumiu-se a umas idas ao cinema onde timidamente dávamos as mãos, eu que tanto ansiava pela experiência de um beijo e…nada, não ousei pedir, não ousei avançar e…ficámos pelas mãos dadas, mas mesmo assim foi marcante, ainda hoje o recordo, pela pureza que teve.

Vi-te passados quê? Uns 15 anos, num supermercado, estás igualzinho eu não, tinha um bebé ao colo e um pela mão, tu não tinhas filhos e nem ousei perguntar se tinhas casado, continuámos tímidos como quando nos conhecemos e fomos á nossa vida até ao próximo encontro!

Adeus até á próxima e como vieste foste-te embora.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007



o nascer do sol também me fascina,tão belo o espectáculo de passar das trevas à luz, parece tão simples...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

a teia

No teu corpo
Me encontro
E nele me perco,
Enleada na teia que me teces,
Deliciosamente bordada
Com a suavidade
Das palavras
Que só tu sabes dizer
Extasias-me
Com o silêncio do olhar
Profundo que me lanças
Partilhamos beijos
E carícias
Saciamos desejos
Estupidamente reprimidos
Moldamo-nos na intensidade
Do afecto que partilhamos
Com amor
Ajudo-te a tecê-la
Para nos envolvermos nela
Como se fossemos
Um só…

o tempo foge

O tempo escapa-me
Por entre os dedos
Da minha mão enrugada
Curioso
Já não a conheço
Está diferente
As veias parecem querer fugir
De mim
Não são as únicas
As rugas no rosto
Não estão marcadas
Felizmente!
As cicatrizes
Invisíveis
São profundas
O ego em baixo
Como sempre
Deixo-me ir
Não luto
Desisto
Mas
Quando chego ao fundo
Uma força impele-me
E reinvento-me
Já me habituei
Aos altos e baixos
Desta vida inconstante
Exasperadamente dolorosa
Vexante mesmo
Aguardo paciente
Ou não
O Fim.

a vida

a vida trouxe
o amor
o amor trouxe
a dor
a dor trouxe
o saber
o saber trouxe
a lembrança
a lembrança trouxe
a esperança
a esperança trouxe
a dúvida
a dúvida trouxe
a certeza
a certeza trouxe
a angústia
a angústia trouxe
o viver
a morte trará
o resto

antes que me esqueça...

a todos os homens...
que me magoaram
o meu sincero obrigado
por me terem ajudado
a ser quem sou.

lembras-te...

lembras-te, filha, que um dia me disseste : "Ele não vale uma lágrima tua!"
corrijo-te hoje : "Eles não valeram nenhuma lágrima minha"
desperdício, as lágrimas são para ser usadas em coisas verdadeiramente importantes.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

a minha rua

Vivo na mesma rua há 29 anos, pouco mudou... limito-me a acenar com a cabeça ao vizinho do lado que está a ficar velho e barrigudo "a menina, como cresceu! já namora e tudo!!" ao da frente nunca falei, insiste em ignorar-me como se eu não existisse, simpático não é? também tenho a vizinha detrás, tenho-a visto envelhecer com rapidez, falamos de quando em quando, no muro, nas crianças que já não o são, no marido dela, que já se foi Deus o tenha, no meu que já se foi simplesmente.

Na rua não há crianças, de quando em vez passa alguém a passear um cão que borra o passeio. Já não bastavam os passeios tortos, as pedras levantadas também tenho de ter cuidado com as “bombas”, e depois há ainda aquela gaja que, com a rua inteirinha, resolve estacionar no passeio frente à minha garagem e que, não a conhecendo, todos os dias odeio por me obrigar a fazer mil e uma manobras para conseguir tirar o carro.

Deve-lhe dar um prazer enorme ver-me esmifrar todos os dias! apetece-me esborrachar-lhe o carro mas não tenho tempo, estou sempre a correr…para a escola… para o emprego… para a vida.

"in memoriam"

.....Depois há a minha tia, aquela pessoa que adoro e que sempre me adorou, que era "a minha bandeira da misericórdia” a minha Titi…que me amou e mimou, que tratou as minhas filhas como suas.
A saudosa Titi... agora encurralada, num corpo cadavérico que há muito deixou de dominar, aquela que, nos raros rasgos de lucidez, me diz que sempre gostou muito de mim, e que faz rolar as minhas lágrimas cada vez que a vejo assim, qual passarinho ferido que um sopro fará cair.
A única pessoa a quem eu consegui dizer em vida, de alma na mão, que sempre gostei muito dela.

Meu Deus, como foste tão importante na minha vida…

Bolas! Estou zangada contigo!!!

Porque tinhas de envelhecer tão cedo? Não podias esperar? Preciso tanto de ti...e depois há aqueles dias em que me despedaças o coração, quando não me conheces de todo, aí sou tua irmã, tua mãe, tudo o que nunca fui e não quero ser.

Sou Eu, lembras-te? dizes que sim, que claro que te lembras do dia em que te levei à escola...

Evito ter de te ver assim, há quem não perceba... mas eu sei que me entendes, se fosse ao contrário farias o mesmo.
Éramos tão parecidas…tão assustadoramente próximas com duas gerações inteirinhas a separar-nos.
Merecíamos ter passado mais tempo juntas, devias ter esperado mais tempo por mim... foste sempre o meu apoio e ainda és, trago-te dentro de mim gravada para sempre e só tu sabes isso, não preciso de estar fisicamente junto de ti para estar contigo e tu sabes que não suporto ver-te degradar, ás vezes, com uma rapidez assustadora.

Lembras-te quando me deixavas usar os teus sapatos de saltos altos?
Tinha eu o quê 5, 6 anos?
Lembras-te daquela vez em que sem muita maldade, consciente, resolvi tirar-te o banco e tu caíste desamparada no chão com dores que, agora , presumo atrozes o que me ia custando uma tareia e tu, com dores, a tentares salvar-me desse destino traçado…tantas aventuras…tantos risos…tanta cumplicidade…tanto amor…

Conseguiste!!!! Boa! por fim libertaste-te do teu corpo, dos ossos, da tua pele...deixaste a alma comigo.

obrigada!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

futilidades de uma mulher fútil

sou fútil e...?
assumo que o sou, é mais fácil assim, dizer na cara: sou fútil e gosto de o ser!
gosto de sapatos, de roupa e de batatas fritas. querem mais fútil que isto?
gosto de fazer compras até abarrotar e faltarem-me dedos para agarrar os sacos.
também gosto do cheiro das flores e do pôr do sol, não sei porquê...
sou fútil lembram-se?

a matéria dos sonhos

há quanto tempo não sonho!
a imaginação deixou de funcionar, vá-se lá saber porquê...parou simplesmente como tantas outras peças de que me componho...nada de importante.
também sonhar para quê se a memória já me atraiçoa...é melhor assim.

olhares

há olhares que dizem tudo,
gosto desses,
em que consigo
entender o silêncio,
ver o fundo da alma,
o meu olhar
às vezes é este.
há olhares que ferem,
não gosto desses,
magoam-me,
fulminam-me,
trespassam-me,
também os sei fazer...
há olhares vazios,
esses não prestam,
não veêm,
estão ocos...

a minha pele

dispo a minha pele,
fico em chaga,
não é bonito de ver,
a carne viva que sou,
é tempo de me libertar
das marcas profundas que,
sem orgulho,
ostento,
preciso refazê-la,
para,
de novo,
lhe marcar,
o que vier...

tarde demais

O passado esfuma-se
Tal como a vida
Em comum
As viagens
Estão tão distantes
Como nós
Há um fosso tão grande
Qual oriente e ocidente
Sinto a falta do exotismo
De que tanto gostávamos
Para mim não haverá
Mais oriente
Restar-me-ão as lembranças
Que coleccionei com avidez
É tudo tão longínquo
Como as viagens que fizemos
As filhas unem-nos
e desunem-nos
eu continuo a viver
para elas
tu fazes
o que sempre fizeste
talvez seja a tua maneira
de amar
que ninguém compreende
só tu
as filhas precisavam de mais
muito mais do que lhes dás
talvez te apercebas
quando for tarde demais.

domingo, 4 de novembro de 2007

tanta coisa e ainda tanto por dizer...uma vida inteira já usada e uma parte da vida por fazer

afinal sou só mulher

Viciaste o amor
Tornaste-o feio
Provocaste-me
Mil dores
Sem teres receio
Não
Não concedo perdão
Sou só
Mulher
Destruíste-me a esperança
Torturaste-me a memória
Não
Não concedo perdão
Sou só
Mulher
Induziste a ilusão
Em mim
Que não merecia
Mentiste com o coração
Quero que morras
De uma morte
Bem profunda
Que desapareças das
Entranhas do meu ser
Quero lavar-me de ti
Dizer-te adeus
Não
Não concedo perdão
Afinal sou só
Mulher
Não sou DEUS

até que a morte nos separe

Não sinto nada
E isso é bom
Estou feliz
Ultrapassei
Ultrapassei-te
Fechei o livro
Sê feliz!
Não que mereças
Mas enfim…
Já não te desejo mal
Já não te desejo…
De todo!
Apesar de tudo…
O que me fizeste
Fez-me ser quem sou
Agradeço-te
Por isso
Hoje
Estou bem
Estarei sempre contigo
Até que a morte nos separe
Lembras-te?

fiz as pazes

Fiz as pazes
Com o meu ser
Errante
Aprisionei-o
Na consciência
Dominei-o
E sou dominada
Por uma vaga
De espuma desfeita
Dos meus sonhos
Ventos elísios
Da minha memória
Na penumbra
Da consciência
Do meu ser
Complexo
Amplexo
Ao invés
Tão simples
Sofredor
Por karma…
Fingidor
Ás vezes…
Crédulo
Sempre…

não há palavras

Não há palavras que traduzam
Um olhar…
Não há palavras que definam
Uma carícia…
Agradavelmente arrepiante…
Não há palavras que definam
Um beijo…
Não há palavras que definam
Sentimentos…
Não há palavras que definam
O amor…
Simplesmente não há palavras…
Estão esgotadas

longe de ti

Longe de ti
Sinto-te perto
Curioso…
Os beijos
transbordam-me dos lábios
Sequiosos pelos teus,
Enlevas-me
com a carícia do teu toque
A sua precisão milimétrica
Como se conhecesses
o meu corpo
Desde sempre…
O sussurro das palavras
Que trocamos em segredo
A intimidade que se adivinha
Nos olhares cúmplices que trocamos,
O prazer de estarmos juntos,
Só por estarmos…
De entrelaçarmos as mãos
Que acariciaram,
Com talento,
Nossos corpos
Que se atraem sequiosos
Longe de ti
Estou... perdida

algo mais

O olhar vagueia
doloroso
buscando
uma razão
para brilhar
O coração não sabe
sequer que existe
bate compassado
simplesmente
O corpo sofre
desencanta-se
á espera de algo mais
que não chega
A alma dói
quando suspira
por algo
que espera encontrar
Algo mais
Falta
para fazer sentido
O quê?
Não sei…Só sei que falta

não é fácil

Não é fácil
Dizer as palavras
Certas
No preciso momento
Em que carecem de ser ditas
Não é fácil
Esquecer
O que tem de ser esquecido
Para seguir
Prosseguir
Evoluir
Não é fácil
Avançar
Quando o mais fácil
É fugir
De sentir
Não é fácil esperar
Que o tempo passe
Quando os segundos
Se transformam em horas
Não é fácil
Despir-me de mim
Para vestir-me de ti
Como convêm
Não é fácil
Imaginar
Que sou capaz
Quem sabe
Um dia…
Não é fácil viver!
E isso fascina-me
Porquê?
Nem eu sei....

presa a mim

Fecho-me
Entre as quatro paredes
Da minha solidão
A saída
Está lá
Eu sei
Mas na escuridão
Que me envolve
Ceguei
Tacteio a medo
Tropeço
Tira-me as vendas
Que um dia coloquei
Sem querer
Derruba-me as defesas
Do meu castelo
De cartas
Descobre-me no canto
Que escolhi para abrigo
Corta-me as correntes
Com que me agrilhoei
Neste mundo de horrores
Quero fugir
E não consigo
Liberta-me
Estou presa a mim

desencontro

Desencontro-me de ti
No tempo
Os caminhos que escolhi
Hoje lamento
Encanto-me com as coisas
Mais banais
Deslumbro-me do que tu
Sabes de mais
Desencontro-me de ti
E perco-me de mim
Já não sei onde é
A estrada
Procura-me
Estarei na berma
No cruzamento do tempo

sopra-me a dor

Sopra-me a dor
Embala-me com
Mil cuidados
Sou um rochedo
Frágil
Assolado pelas vagas
Da minha vivência
Afugenta os meus
Medos,
Horrores,
Segredos
Canta-me um poema
Daqueles
Que marcam uma vida
Que não tive
Aperta-me nos teus braços
Ainda que me sufoques
Ensina-me a respirar
De novo
Mas sopra-me
Com força
Sopra-me a dor

um par de botas



Não existo
Pisam-me
Impassíveis
Com as botarras
Sujas de merda
Malditos!
Grito em silêncio
Esboço invisíveis
Esgares de dor
E lá continuam elas
Implacáveis,
Impassíveis…
Avançando
Espezinhando-me
Com prazer
Sinto-o bem
Malditas!
Afastam-se por fim
Sinto alívio
Até á próxima…

De novo
As pressinto
Oiço-lhes os sons
Compassados
Ritmados
Irados
Antevejo-as…
Aproximam-se
Majestosas
Julgam elas…
Desta vez resisto
Luto
Ergo-me
Agiganto-me
E vejo-as borrarem-se
De medo

mundo interior

preguiça de ser diferente
necessito de mudar
deixar de ser indolente
sentir de novo, vibrar

olhar o mundo de caras
sorrir da vida sem fim
soltar as minhas amarras
perder-me dentro de mim

encontrar a minha estrela
libertar-me da razão
esquecer as cruzes que trago
dentro do meu coração

descobrir os meus sentidos
adormecidos ou não
vencer todos os medos
desistir da solidão

e quando isso acontecer
num dia já não distante
morrerei para renascer
deixarei de ser errante

3/11/2007

domingo

vou arriscar e expôr-me um pouco...conseguirei ou não? veremos...tanto para dizer que é dificíl começar...
procurarei despir a pele que me envolve e protege, que conta a minha história visivel e invisivel, as rugas cá estão e ficarão, não arrisco, orgulho-me delas, não as irei apagar, apagá-las seria esconder parte de mim dos olhos dos outros, permaneci escondida e ainda me escondo por detrás de mim mesmo, demasiado tempo...